Folha de S. Paulo


'Rolezinho protesto' faz shopping de área nobre fechar portas em SP

O shopping JK Iguatemi fechou as portas assim que cerca de cem manifestantes de um protesto organizado pelo grupo de estudantes UNEafro chegaram em frente do centro comercial, situado na zona oeste da capital paulista, por volta das 13h45 deste sábado (18).

A entrada de carros ou de pedestres segue impedida. A praça de alimentação, assim como boa parte das lojas, segue funcionando (algumas das pessoas que estavam no centro de compras antes do fechamento dos portões continuam em seu interior).

Por volta das 16h40, o shopping anunciou que só voltaria a abrir as portas no domingo.

Uma das lideranças da organização foi à delegacia por volta das 15h20 para registrar ocorrência de crime de racismo.

A UNEafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os) diz que a manifestação é contra a discriminação praticada pelos shoppings de São Paulo quando há restrição da entrada ao espaço e seleção, pela aparência, dos que podem entrar.

"A cidade não existe para o bem-estar, mas para o consumo. O nosso ato é político, contra os vários tipos de preconceito, principalmente contra o negro", diz Douglas Belchior, professor de história e conselheiro da UNEafro.

Além do JK Iguatemi, estão previstos para a tarde de hoje 'rolezinhos' nos shoppings Metrô Tatuapé, Boulevard Tatuapé, e Center Norte –todos os estabelecimentos conseguiram liminares na Justiça impedindo os eventos.

Também foram marcados eventos semelhantes em parques públicos, como o parque do Carmo e o parque do Ibirapuera, onde pelo menos 30 pessoas compareceram.

O JK Iguatemi, por outro lado, não tem liminar para fechar a porta ou para multar participantes de um eventual "rolezinho", como vem sendo chamado esse tipo de encontro organizado por jovens por meio das redes sociais.

Os manifestantes se concentraram no Parque do Povo, nas cercanias do centro de compras, e saíram por volta das 13h30 caminhando rumo ao shopping, onde chegaram cantando canções que falavam sobre Zumbi dos Palmares.

Um dos portões para acesso de pedestres já se encontrava fechado, e os demais foram encerrados quando da aproximação dos manifestantes. Algumas lojas, mais notavelmente as joalherias, também trancaram suas entradas.

Segundo pessoas ouvidas pela Folha, cogita-se a possibilidade de o shopping não abrir mais as portas hoje.

A Folha conversou com dois visitantes do shopping que acabaram perdendo a sessão de cinema para a qual haviam comprado ingressos usando a internet –eles deram de cara com as portas fechadas. Também foram ouvidos relatos de funcionários que acabaram ficando para fora do shopping.

O clima no interior do centro comercial é de tranquilidade. Há poucos visitantes, que foram orientados a sair do estabelecimento pela porta do estacionamento.

Manifestantes picharam a calçada à frente de uma das entradas com a mensagem "JK racista".

Havia cerca de 1.100 pessoas que garantiam presença em um "rolezinho" no JK Iguatemi às 13h deste sábado, convocado por meio do Facebook. Para o "rolê contra o racismo", criado pela UNEafro, havia 4.600 "confirmados".

Por volta das 16h, pessoas começaram a cantar funk e reggae na frente de uma das entradas do estabelecimento.

O JK Iguatemi é considerado um dos mais luxuosos da capital paulista. A direção do shopping não confirma se reforçou a segurança, mas um grande número de funcionários observa o movimento na principal entrada do centro de compras.

A UNEafro é uma organização que dá cursos gratuitos para a formação de pessoas carentes, em especial negros. Também organiza atos políticos, como atos contra o racismo no aniversário da abolição da escravatura.


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