Folha de S. Paulo


Em depoimento, motorista nega racha mas assume estar acima da velocidade

Vagner Rodrigues, 28, o motorista que atropelou e matou Jéssica Bueno da Silva, 22, na quarta-feira, na zona norte de São Paulo, foi indiciado por suspeita de homicídio com dolo eventual --intencional, pois teria assumido o risco de causar a morte--, além de fuga do local e participação em racha.

Vagner se apresentou no 7º DP (Lapa) por volta das 19h desta quinta-feira (21), onde prestou depoimento por cerca de duas horas. "Nós detalhamos bem desde o momento em que ele saiu da casa dele conduzindo o veículo. Ele nos confirmou que sua carteira de habilitação estava vencida, e que ele inclusive tem um procedimento administrativo no Detran em relação às multas excessivas que já tomou --por excesso de velocidade e outras também", disse o delegado Marcel Druziani.

Zanone Fraissat/Folhapress
Foto do documento de identidade da vítima
Foto do documento de identidade da vítima

Segundo o delegado, o motorista afirmou que trafegava a 80 km/h na rua Edgar Facó, velocidade acima do limite permitido na via, que é de 60 km/h. Segundo a versão de Vagner, ele seguia na faixa da esquerda quando dois veículos tiravam racha atrás dele. Um dos veículos deu farol pedindo passagem, e ele teria aumentado a velocidade ainda mais (para cerca de 90 km/h ou 100km/h). Então, diz ele, o veículo o ultrapassou pela direita e ainda lhe deu uma fechada.

O motorista disse ainda que após a fechada o veículo saiu para a direita, quando Jéssica apareceu na sua frente. Vagner afirmou também ao delegado que a garota atravessou fora da faixa de pedestres e que o semáforo estava aberto para carros. O delegado, porém, diz não estar convencido com o depoimento, já que testemunhas dão versões diferentes.

"As principais provas são aquelas que se somam umas às outras, e isso nós temos aqui. Testemunhas que nos falam totalmente diferente do que ele [Vagner] nos disse, e [temos] as provas materiais: dano causados ao veículo, dano causado à vítima, o corpo dela, que demonstra o excesso de velocidade", disse. "Ele confessa o atropelamento, confessa a morte, confessa que a velocidade estava acima, mas não tão acima".

Com a batida, o corpo da garota atravessou o pára-brisa e entrou no veículo. Vagner dirigiu ainda por cerca de 200 metros e parou na ponte do Piqueri, sobre a marginal Tietê. Segundo disse no depoimento, ele e os dois amigos ficaram nervosos, desceram e iriam ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas fugiram quando avistaram cerca de seis pessoas correndo na direção deles, temendo ser linchados.

Foi então que os três seguiram a pé para a marginal Tietê e pegaram um ônibus até Pirituba, de onde se dividiram em lotações e seguiram para suas casas. Depois, o suspeito foi para a casa de uma amiga, onde permaneceu até a tarde de hoje, antes de se apresentar na delegacia. Segundo o delegado, Vagner e os amigos são vizinhos. Eles seguiam para um show de sertanejo na avenida Marquês de São Vicente quando ocorreu o atropelamento.

A polícia ainda não obteve imagens do momento do acidente, apenas imagens de cerca de três quarteirões antes, quando Vagner trafegava em velocidade reduzida e não havia os dois outros veículos. O delegado diz que já oficiou a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) em busca de imagens do local exato do incidente. Os dois amigos que estavam no carro devem se apresentar na delegacia na segunda-feira, assim como a amiga que hospedou Vagner em sua casa.

Zanone Fraissat/Folhapress
Carro que atropelou e arrastou mulher na zona norte de SP; ocupantes do veículo fugiram sem prestar socorro à vítima
Carro que atropelou e arrastou mulher na zona norte de SP; motorista do veículo fugiu sem prestar socorro à vítima

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