Folha de S. Paulo


Após ameaça, 'xerife' de Haddad usa carro blindado e tem seguranças

A chegada à delegacia de um auditor fiscal algemado e escondendo o rosto após ser preso por suspeita de corrupção poderia ser o resultado de um trabalho policial ou de promotores de Justiça.

Porém, a operação que acabou na prisão de servidores que podem ter causado um rombo de R$ 500 milhões na Prefeitura de São Paulo é o resultado de investigação feita por outro servidor cuja função é descobrir desvios de quem pode estar trabalhando na sala ao lado da dele.

A descoberta do esquema é até agora a marca deixada por Mário Vinícius Spinelli desde que chegou à Prefeitura de São Paulo, em janeiro.

Espécie de xerife do prefeito Fernando Haddad (PT), Spinelli é o controlador-geral da administração, cargo que assumiu com a missão de fixar a marca de intolerância à corrupção na gestão. A tarefa já trouxe consequências em sua vida pessoal. Ameaçado de morte, usa carro blindado e anda com seguranças.

O esquema investigado por Spinelli é um maiores escândalos na prefeitura, coordenado por servidores de alto escalão que cobravam propina de empreiteiras em troca de "descontos" na cobrança de impostos.

Segundo um assessor do prefeito, Haddad disse ao controlador que ele não deveria ignorar ameaças, mas levá-las a sério.

Procurada, a assessoria do prefeito não quis se manifestar. O caso é considerado "delicado" e vem sendo mantido em sigilo. Um dos focos de investigação do controlador é verificar a evolução patrimonial de servidores.

Só neste ano, ao menos dez funcionários da prefeitura foram presos sob suspeita de corrupção. "Ando no mesmo elevador com as pessoas que investigo", contou.

DISCRETO

O blindado tem capacidade de resistir a disparos de pistola calibre 38 e tem rodas especiais para que o veículo não pare, caso seja alvejado.

Spinelli fala pouco. Logo após assumir, foi à Câmara contar como faria para enfrentar servidores corruptos. Disse a interlocutores que vereadores riram quando afirmou que iria encontrar patrimônio ilegal pesquisando nas redes sociais.

A prova de que falava sério veio à tona. Um dos auditores fiscais detidos mantinha no Facebook a informação de que era dono de um hotel.

Sua estratégia é um conhecido mote de quem investiga corrupção: "siga o caminho do dinheiro!". A pedido de Spinelli, Haddad assinou um decreto que obriga os servidores a registrar seu patrimônio no site da prefeitura.

O traquejo do controlador, que é engenheiro de formação, veio com a experiência que acumulou desde 1999, como perito do Tribunal de Contas de Minas Gerais e, mais ainda, a partir de 2001, quando assumiu o posto de analista de finanças e controle da CGU (Controladoria Geral da União).

Ascendeu na estrutura do governo federal e, em 2010, se tornou titular da Secretaria de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da CGU, passando a representar o órgão no Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras).


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