Folha de S. Paulo


Após tentar invadir Câmara, MTST promete novas ocupações em SP

Acabou de forma pacífica, por volta das 18h15 desta terça-feira, uma manifestação promovida por integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) pelas ruas do centro de São Paulo. Após se reunir com autoridades municipais, o grupo promete novas ocupações em terrenos da cidade.

O ato teve momentos de tensão, mais cedo, quando os manifestantes tentaram invadir a Câmara dos Vereadores. A GCM (Guarda Civil Metropolitana) usou gás de pimenta e cassetetes para impedir que o grupo ultrapassasse um bloqueio feito com tapumes no prédio - uma das faixas do Viaduto Maria Paula chegou a ficar bloqueada por mais de uma hora.

Houve um princípio de confusão, no momento em que pessoas que estavam no prédio do legislativo paulistano jogaram objetos nos manifestantes. Eles revidaram. Segundo a Polícia Militar, a manifestação reuniu 400 pessoas --os organizadores falaram em mil participantes.

Uma comissão formada por 12 integrantes do MTST foi recebida pelo presidente do legislativo paulistano, José Américo (PT). Para ele, os manifestantes entregaram um documento com sete propostas --a principal era a agilização da votação do Plano Diretor da cidade, enviado aos vereadores há três semanas pelo prefeito Fernando Haddad (PT).

Os manifestantes, que fazem parte do movimento das ocupações Faixa de Gaza, em Paraisópolis, e Dona Deda, no Parque Ipê, na zona sul da cidade, pedem a manutenção e ampliação das Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social), expansão de habitações de interesse social em outras áreas da cidade e a mudança na maneira como a Prefeitura age nas ações de despejo em terrenos públicos ocupados.

Segundo Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, hoje, a prefeitura promove despejos em terrenos municipais com ações da GCM e sem pedir reintegração de posse à Justiça.

REUNIÃO COM VEREADORES

Américo sugeriu aos manifestantes que se articulassem com algum vereador para que fossem elaboradas propostas de emendas ao Plano Diretor. O vereador Toninho Vespoli (PSOL) acompanhou a reunião e se comprometeu a estudar uma maneira de apresentar as pautas do MTST como emenda.

O petista não quis comentar o fato de a GCM ter usado gás de pimenta para impedir a invasão da Câmara. "Tragam mais gente, pois alguns vereadores representam grupos sociais que são contrários aos seus pleitos", aconselhou.

José Américo avalia que é impossível prever quando o Plano Diretor será colocado em votação. "Não depende apenas de mim. Ele será colocado em votação quando tivermos um consenso. Por enquanto, o que eu posso falar é que o MTST tem de acompanhar as audiências para discutir o Plano Diretor. Vamos ter uma grande sobre habitação e eu me comprometo a convocar o movimento", afirmou.

SEGUNDA REUNIÃO

Na sequência, a mesma comissão foi recebida na prefeitura. Lá, eles esperavam reforçar o pedido sobre as ações da GCM nos despejos em terrenos públicos. Segundo Boulos, a reunião não teve nenhum resultado concreto. "Eles receberam nosso documento, mas não houve nenhum compromisso", disse.

Após a reunião, Boulos falou em uma "onda de novas ocupações na cidade". "Se a prefeitura está desacreditando a gente, se eles acham que a gente vai ficar sem moral, vamos ocupar mais terrenos", ameaçou.

Um novo ato foi marcado pelos manifestantes para a quinta-feira, às 9h, em frente ao Teatro Municipal. Boulos promete pressionar ainda mais a administração municipal. "Na quinta, se for preciso, a gente vem preparado para acampar na frente da prefeitura. A gente não vai ficar quieto", afirmou.

Segundo a assessoria de imprensa da secretaria de Relações Governamentais, o grupo foi recebido pelo secretário-adjunto da pasta, José Pivatto. A prefeitura afirmou que vai encaminhar as pautas do MTST para a secretaria de Habitação, que é o órgão que deve analisar a viabilidade dos pedidos.

FAMÍLIAS

O protesto desta terça-feira reuniu pessoas que fazem parte de duas ocupações específicas-- Faixa de Gaza e Dona Deda. A pessoas que participaram do ato são das duas comunidades. O segurança Diogo dos Santos, 51, por exemplo, veio acompanhado da mulher, Edinilsa, 30, e da filha Rebeca, 7. "Tem gente que acha que as invasões acontecem porque a gente quer. Eu sou de Paraisópolis e o aluguel de um cômodo e cozinha lá é R$ 500. Impossível viver assim", disse.

A doméstica Terezinha Faustino de Souza, 45, estava na mesma situação. "Eu pago aluguel de R$ 480 em Paraisópolis. Quando decidiram ocupar a Faixa de Gaza fui junto. Moro há 30 anos em São Paulo e até hoje não consegui ter um canto meu", contou.


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