Folha de S. Paulo


'Queria que a pistolagem voltasse', diz filho de morto em assalto em Maceió (AL)

Filho de um médico morto no ano passado durante assalto na orla de Maceió, o empresário André Tenório, 36, diz que se sentia mais seguro quando o Estado de Alagoas era famoso pelos crimes de pistolagem.

Com smartphones, Força Nacional tenta agilizar prisões em Maceió (AL)
Análise: Medo faz parte do cotidiano das cidades brasileiras
Capital mais mais violenta do país, Maceió tem 'áreas proibidas'
'Foram matar outro, mas mataram meu filho', diz mãe em Maceió (AL)
Em cinco anos, dona de casa teve dois filhos mortos em Natal (RN)
'Hoje o crime mata mais jovens', diz ex-líder de gangue de Natal (RN)
Em 10 anos, morte de jovens aumenta 1.000% em Natal (RN)
'Se você não mata, morre', afirma ex-chefe de gangue em Natal (RN)
Governo do RN diz criar formas para reduzir assassinatos

"Anos atrás, os crimes daqui eram políticos. Eu gostaria que voltasse aquilo, porque não atingiam a sociedade. Eram brigas de família por poder, e só atingiam aquelas pessoas", afirma.

Pai de Tenório, o otorrinolaringologista José Alfredo Vasco foi morto aos 66 anos por dois adolescentes que levaram sua bicicleta, segundo a polícia. Os acusados, à época com 16 e 17 anos, foram internados e cumprem medidas socioeducativas.

O médico morreu com um tiro nas costas a 400 metros de casa, no Corredor Vera Arruda, no início da praia da Jatiúca, área nobre da capital.

O caso ganhou repercussão após Tenório organizar pelas redes sociais uma marcha na orla de Maceió pedindo paz em Alagoas, dois dias após a morte do pai. Cerca de 10 mil pessoas participaram, segundo estimativa feita pela polícia na ocasião.

"Se eu tiver uma missão na vida, é brigar por segurança. Porque não é possível um cara ser assaltado nove vezes [em Maceió], ter um pai assassinado num assalto, e se calar. Não posso", diz Tenório.

Registrada em área nobre, a morte do médico pode ser considerada atípica na cidade, que costuma concentrar seus homicídios na periferia, segundo a Secretaria de Defesa Social.

Um mês após a morte, registrada como latrocínio (roubo seguido de morte), o Estado firmou parceria com o governo federal para a implantação do Brasil Mais Seguro, plano que visa diminuir homicídios em Maceió e Arapiraca --segunda maior cidade do Estado.

Segundo o governo, o número de homicídios na capital de Alagoas caiu 20,5% de 2011 para 2012, após 12 anos de crescimento.

Jean Charles Watelet/Folhapress
André Tenório, 36, diz que se sentia mais seguro quando o Estado de Alagoas era famoso pelos crimes de pistolagem
André Tenório, 36, diz que se sentia mais seguro quando o Estado de Alagoas era famoso pelos crimes de pistolagem

CRÍTICAS

Hoje, o combate à criminalidade em Maceió é alvo de críticas de Tenório. Para o empresário, o Brasil Mais Seguro foi lançado como um "circo", quando deveria ter sido uma "marcha fúnebre".

"A última coisa que político faz é saneamento, porque não aparece, está enterrado. É a mesma coisa na segurança. Botaram dois helicópteros numa cidade onde um helicóptero voando já é atração", diz.

Tenório afirma temer que criminosos voltem a fazer vítimas após a saída dos cerca de 230 policiais da Força Nacional que estão temporariamente em Alagoas em razão da parceria federal.

O temor é compartilhado por moradores de Maceió consultados pela reportagem.

Tenório se queixa, ainda, de que o policiamento no Vera Arruda, onde seu pai foi morto, não aumentou.

O governo estadual rebate as críticas, afirmando que que vai contratar 1.040 policiais militares e 400 civis para as funções hoje desempenhadas por homens da Força Nacional, no âmbito do Brasil Mais Seguro.

Segundo a Defesa Social, para a região da orla, onde predominam crimes contra o patrimônio (furtos e roubos), foi criada uma central de monitoramento por câmeras, para inibir crimes desse tipo.


Endereço da página:

Links no texto: