Folha de S. Paulo


Tema do Carnaval, 'guitarra baiana' é ignorada por bandas de Salvador

Nunca se falou tanto em "guitarra baiana". Mas o atual tema do Carnaval de Salvador, homenagem ao instrumento idealizado há 70 anos por Dodô e Osmar --os mesmos criadores do trio elétrico--, fica mesmo somente numa "lembrança respeitosa".

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Enquanto principalmente os herdeiros da dupla se esforçam para manter a tradição, inclusive criando uma escola para estudantes da rede pública de ensino, a maioria dos músicos da folia baiana ignora a "guitarrinha", como também é chamada.

Sobretudo as bandas mais famosas do Carnaval. Ironicamente, ao redor de seus trios, adereços do governo ao longo dos três circuitos oficiais da festa sempre fazem referência ao instrumento --mistura de cavaquinho (pelo tamanho) com bandolim e apenas cinco cordas, uma a menos que as guitarras tradicionais.

"A Bahia é muito ingrata com relação ao instrumento. Existe uma dívida sobre ele. Os grandes artistas, milionários, poderiam estar divulgando, poderiam tranquilamente ter no seu set uma 'guitarra baiana'. Todo guitarrista da Bahia que se preze deveria ter", diz Morotó Slim, da banda Retrofoguetes, um dos representantes da nova geração que tenta resgatar o que Dodô e Osmar apelidavam de "pau elétrico".

O tema carnavalesco foi definido em junho passado pela prefeitura e pelo Conselho do Carnaval. O trio somente surgiu graças à "guitarra baiana", responsável por sonorizar os primeiros carros usados para animar os desfiles.

Até o fim da década de 1970, com Moraes Moreira, não havia a figura de um cantor puxando os blocos. Tudo acontecia sem microfones.

"A '[guitarra] baiana' foi abolida dos trios elétricos em razão da voz. Ela que era a solista, a cantora do trio. Aí foram surgindo animadores de auditório, porque a maioria se comporta assim", diz Aroldo Macedo, presidente da Associação Guitarra Baiana.

Macedo é filho de Osmar e irmão de Armandinho, que reinventou o instrumento e rebatizou o que antes era denominado "pau elétrico".

Procurado pela Folha, um guitarrista de um dos principais conjuntos de Salvador disse que uma parte dos colegas "simplesmente prefere" um som mais convencional e outra "não sabe mesmo nem tocar a guitarra baiana".

A esperança da família Macedo está na escola em que 120 garotos de 9 a 14 anos tomam aulas com Aroldo e Armandinho. De olho no futuro.


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