Folha de S. Paulo


Condenações vão 'sepultar Eliza', diz promotor durante julgamento

O promotor Henry Wagner de Castro abriu os debates que antecedem a reunião dos jurados de dois dos sete réus acusados do desaparecimento e morte de Eliza Samudio, pedindo aos sete jurados --seis mulheres e um homem-- a condenação de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, ex-secretário do jogador, e Fernanda Gomes Castro, ex-namorada do então atleta do Flamengo.

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O corpo de Eliza nunca foi encontrado, por isso o promotor disse: "Precisamos sepultar Eliza Samudio com as condenações".

A primeira parte da fala do promotor é para pedir a condenação de Macarrão, que no seu interrogatório admitiu ter havido o crime a mando do goleiro Bruno. Macarrão, contudo, nega participação direta no assassinato.

"O Macarrão é um faz tudo de Bruno, um feitor", disse o promotor.

Diante da gravidez de Eliza, cujo filho Bruno não quis assumir, a ex-amante do goleiro disse que iria à imprensa denunciá-lo, caso ele não desse a pensão e continuasse a ameaçá-la. Bruno teria dito, então: "Se eu sumir com você, ninguém vem atrás de mim".

"Bruno e sua turma achavam que poderiam dar cabo dela em Minas Gerais, onde ela não tinha relacionamento", afirmou Castro, que os chamou de "calhorda e matilha de bandidos".

SEQUESTRO

O promotor relatou os depoimentos de Jorge Luís Rosa, o então adolescente primo de Bruno, que denunciou o crime a um parente, segundo os quais Eliza foi atacada com três coronhadas. "Fernanda, aquela dissimulada, nos disse aqui que Eliza não tinha marca da agressão. Que mulher não repara em uma mulher?", indagou.

Ele disse ainda que Fernanda sabia o porquê estava na casa, para ajudar no sequestro. "Não sei como alguém consegue ter tantas lágrimas hipócritas quanto aquela mulher", disse, referindo-se à ré.

Segundos Castro, havia não apenas uma mancha de sangue no carro de Bruno, onde o adolescente a atacou com a coronha da arma. Ele afirmou ainda que do dia 4 de junho, dia no sequestro, até 9 de junho, dia que antecedeu sua morte, o celular de Eliza ficou desligado.

Ele apresentou também como argumento para o sequestro o fato de Fernanda ter dito que ela cuidou do bebê de Eliza por uma noite. "Que mãe deixaria o filho, por livre e espontânea vontade, com uma mulher desconhecida, loura, exuberante", disse o promotor, para quem Fernanda não apenas participou, mas esteve na "inteligência" daquela situação, porque os sigilos telefônicos demonstram que foi ela quem ligou duas vezes para o celular de Jorge, antes de ir para a casa do Recreio, no Rio.

ATAQUE À DEFESA

Henry Castro atacou também o "advogado" e especialmente Ércio Quaresma, hoje advogado do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que foi advogado de Bruno no começo da investigação desse caso.

Polêmico, Quaresma deixou o caso após ter sido revelado o envolvimento dele com o uso de crack --ele voltou a advogar após tratamento.

O promotor atacou os advogados por tentarem induzir os réus a mentir, inventar histórias, especialmente contra Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, assassinado em agosto passado, supostamente em crime passional.

"Sérgio foi coagido, ameaçado, amedrontado, tudo isso está nos autos", disse o promotor, que cobrou ação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), da "Comissão de Ética e Disciplina dessa coisa que se diz uma ordem".

"Esse tipo de advogado desonra a advocacia", disse Castro, acrescentando que já foi advogado.

ÚLTIMO DIA

Começou por volta das 11h20 no fórum de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, o julgamento. A expectativa é que o júri decida ainda hoje o destino Macarrão e de Fernanda.

Macarrão responde pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, sequestro e cárcere privado de Eliza e de seu bebê. Já Fernanda está sendo julgada por sequestro e cárcere privado.

Promotoria tem duas horas e meia para tentar convencer os sete jurados da responsabilidade dos réus no crime. Em seguida, será a vez das defesas de ambos falar. Caso a acusação queira continuar o debate, ela poderá pedir réplica, e as defensorias, tréplica. Essa fase pode durar entre cinco e nove horas.

Terminado os debates, juíza deverá fazer um intervalo para que o conselho de sentença se reúna e decida se Macarrão e Fernanda são culpados ou inocentes.

JULGAMENTO

O julgamento começou com cinco réus --o goleiro Bruno, seu ex-secretário Luiz Henrique Romão, o Macarrão, o ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, a ex-mulher de Bruno, Dayanne Souza, e a ex-namorada Fernanda Castro--, mas foi reduzido para dois. Todos são acusados da morte e desaparecimento de Eliza Samudio, em junho de 2010.

Outros dois acusados dos crimes, o ex-administrador do sítio de Minas Gerais, Elenilson Vitor da Silva, e o amigo do goleiro, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, também devem ser julgados, mas a data ainda não foi marcada.

Bola foi excluído do júri logo no primeiro dia para apresentar novos advogados após a desistência de seus dois defensores, Ércio Quaresma e Zanone Oliveira.

No segundo dia de julgamento, Bruno dispensou o advogado, Rui Pimenta, de sua defesa.

A tentativa do goleiro de destituir também seu advogado, Francisco Simim, culminou no desmembramento do julgamento da ex-mulher de Bruno, Dayanne.

No terceiro dia de julgamento a defesa do goleiro usaram um dispositivo legal para desmembrar a julgamento de Bruno, transferindo os poderes de defender o réu. Francisco Simin, dessa forma, passou o caso para Lúcio Rodolfo da Silva, que pediu um prazo para ler o processo. O novo julgamento está previsto para ocorrer dia 4 de março de 2013.

Segundo Fernanda, Eliza foi junto, mas em outro carro, com Macarrão, Jorge e o bebê.

Editoria de Arte/Folhapress

Antes de Fernanda Gomes, 25, foram ouvidas oito testemunhas até a madrugada desta quinta-feira. Em depoimento o ex-motorista de Bruno, Cleiton da Silva Gonçalves, confirmou ter ouvido Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro, dizer que Eliza "já era" e que seu corpo havia sido jogado para cães.

A delegada Ana Maria Santos, que trabalhou na investigação, revelou no segundo dia do julgamento detalhes do depoimento do primo Bruno, Jorge Luiz Rosa, dado à polícia em 2010. Segundo Rosa, Eliza foi amarrada e chutada antes de ser morta.

A testemunha de acusação, Jaílson Alves de Oliveira, confirmou ter ouvido Bola confessar que teria matado Eliza. Ele também afirmou que foi ameaçado pelo goleiro Bruno.

Na quarta-feira, a mãe de Eliza e um amigo de Macarrão foram ouvidos pelo júri. De tarde, dois vídeos com os depoimentos do caseiro José Roberto Machado, que trabalhou no sítio de Bruno, e de sua mulher, Gilda Maria Alves, foram passados. Eles substituíram as testemunhas dispensadas pela defesa de Fernanda, que foram flagradas falando ao celular no hotel onde estão hospedadas.

Em seu interrogatório, Macarrão incriminou Bruno pelo desaparecimento e morte de Eliza. Ele afirmou que o goleiro havia pedido que ele levasse Eliza até um ponto próximo da Toca da Raposa --centro de treinamento do Cruzeiro na Pampulha, em Belo Horizonte-- onde um homem a estaria esperando. "Eu estava pressentindo que ela iria morrer."


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