Folha de S. Paulo


Atraso em plantio de soja pode afetar safrinha

Paulo Muzzolon/Folhapress
Colheita de soja em fazenda a cerca de 215 km do município de Paranatinga (MT)
Colheita de soja em fazenda a cerca de 215 km do município de Paranatinga (MT)

Excesso de chuva impediu a ida das máquinas ao campo para colher soja nos Estados Unidos. No Brasil, as máquinas ficaram paradas nas últimas semanas devido à falta de chuva.

A situação começa a voltar ao normal, tanto nos EUA como no Brasil. As máquinas dos americanos avançaram em metade da área que deve ser colhida. No Brasil, o plantio está próximo de 20%, mas abaixo do ocorrido em 2016.

Apesar desse atraso nos dois principais países produtores, ainda não se prevê queda de produção. A dos Estados Unidos deverá atingir 120,6 milhões de toneladas, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e a do Brasil poderá ficar em 107 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

A estimativa de produção para a América do Sul é 180 milhões de toneladas, abaixo dos 188 milhões de 2016.

Os fundos de investimento, os que mais movimentam o mercado em períodos de incertezas, estão parados, avaliando o mercado.

Na avaliação de Daniele Siqueira, da AgRural, o cenário de produção não deve mudar muito nos dois países. O Brasil tem, porém, um componente diferente.

O atraso no plantio da safra de verão poderá complicar o plantio da safra que vem a seguir, a chamada safrinha.

Se os produtores perderem o período ideal de semear, principalmente o do milho, vão repensar a área a ser plantada, já que os preços não estão muito convidativos.

Parte da área de soja que foi semeada no "pó" (sem chuva) precisará ser replantada, e o produtor poderá trocar a soja pelo algodão. A Conab prevê um avanço de 5% a 10% na área de algodão.

EXPORTAÇÃO ACELERADA

O volume de exportação de soja das primeiras três semanas deste mês, divulgado pela Secex (Secretaria de Comércio exterior), indica que as vendas externas da oleaginosa voltarão a ter um ritmo intenso até o final do mês.

As exportações acumuladas de julho a outubro devem somar 19,5 milhões de toneladas, 63% mais do que em igual período de 2016.

As exportações do Brasil estão sustentadas pela elevação da demanda mundial, principalmente pelo volume importado pela China.

Por isso, mesmo com a estimativa de produção mundial elevada, os preços não caem. O mercado fica à espera do que poderá acontecer com a América do Sul, que ainda está em período de plantio da oleaginosa.

PORTOS MOVIMENTADOS

As exportações de soja e de milho, dois dos principais produtos brasileiros, fizeram os portos movimentar um volume 97% maior neste segundo semestre do que em igual período de 2016.

A movimentação com milho deverá atingir 5,6 milhões de toneladas em outubro, elevando o acumulado do semestre para 19,1 milhões, 151% mais do que de julho a outubro de 2016.

RITMO ACELERADO - Exportações em milhões de toneladas

Boa parte dessa movimentação ocorreu pelo portos do Norte e do Nordeste, que elevam a capacidade de exportação de grãos ano após ano.

O Brasil tradicionalmente tem vendas externas elevadas de milho no segundo semestre. A novidade neste ano foi o elevado volume de soja, colocando em teste o sistema brasileiro de portos.

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Crédito agrícola - O volume financeiro de CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) na B3 superou a marca de R$ 26 bilhões neste mês. O CRA, voltado para o agronegócio, tem isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas.

Recorde - Esse volume foi obtido com a operação da RB Capital Securitizadora com lastro Solar, que captou R$ 657 milhões com 1.786 investidores, sendo 98% deles pessoas físicas. No mesmo período em 2016, o montante era de R$ 11,8 bilhões.

Nova realidade - As usinas do centro-sul se voltaram mais para a produção de etanol nos últimos meses. Nesse período, a demanda por álcool teve forte aumento. É uma nova realidade em relação à vivida até agosto.

Certificado - O biodiesel da Cargill, produzido em Três Lagoas (MS), apresentou taxa de emissão de CO² 62% menor do que a da queima de combustíveis fósseis convencionais. A taxa é maior do que a requisitada pela União Europeia (mínimo de 50%).


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