Folha de S. Paulo


A esperança é de que Tite faça a seleção jogar coletivamente

Recentemente, me chamaram de filósofo do acaso. Gostei, com ressalvas. Na vida, especialmente no futebol, pela multiplicidade de possibilidades, o acaso tem muita importância. Ele costuma estar presente, mas sem avisar quando e onde vai aparecer. Apesar de não se mostrar, o acaso é tão presente, claro e objetivo quanto a mais precisa informação dada por um computador.

Por outro lado, sei que sem organização, planejamento e conhecimento, que vai muito além da informação, nada é possível. As duas visões são complementares, não se excluem. Divago, levito, mas com os pés no chão.

Muitas pessoas confundem o posicionamento tático, uma evolução da seleção olímpica e dos times brasileiros, principalmente depois da Copa de 2014, com conceitos, filosofia de jogo, aproximação para fazer triangulações, trocar passes, ter o domínio da partida e da bola e outros detalhes, características do Corinthians sob o comando de Tite. Predomina ainda em nosso futebol o excesso de bolas aéreas, longas, a pressa para chegar ao gol e as inúmeras tentativas individuais, mesmo fora de hora.

Minha esperança é que Tite, aos poucos e até a Copa de 2018, faça a seleção jogar como o Corinthians de sua época, porém, com muito mais qualidade e eficiência, por ter jogadores melhores.

Pela convocação e pelas entrevistas, imagino que Tite vai adotar a formação tática que usava no Corinthians, com quatro defensores, um volante (Casemiro), um meio-campista de cada lado que marque e avance (Paulinho e Renato Augusto), dois jogadores pelas pontas (um mais atacante, como Neymar, e outro mais armador, como Willian), além de um centroavante (Gabigol ou Gabriel Jesus).

Paulinho, Renato Augusto e Casemiro formariam um trio forte fisicamente, ótimo na marcação e nas jogadas aéreas defensivas e ofensivas. Dos três, dois atuam na China, o que causa muita estranheza. Com esse meio-campo ou com qualquer outro, falta, há décadas, um craque nesse setor, que brilhe de uma área à outra. Esse tipo de armador não desapareceu por acaso.

Outra possibilidade tática é repetir a formação olímpica, com dois volantes (Casemiro e Renato Augusto), um jogador de cada lado (Willian e Philippe Coutinho) e Neymar livre, no centro das jogadas, formando dupla com outro atacante. Sairia Paulinho e entraria Philippe Coutinho.

Messi é mais completo e superior a Neymar, mas penso que a seleção brasileira depende mais de Neymar que a argentina de Messi. Isso ocorre porque Messi joga no Barcelona e na seleção da mesma maneira, enquanto Neymar, no time brasileiro e na época de Santos, tenta driblar, dezenas de vezes, vários adversários e fazer o gol. Isso pode ser bom ou ruim.

Talvez, uma divagação, a Argentina fosse campeã do mundo e/ou da Copa América se Messi fosse mais fominha, menos solidário e acreditasse que ele é muito melhor que sua seleção. Ele tentaria driblar mais e decidir as partidas sozinho. Futebol é coletivo, mas há exceções.

Nelson Rodrigues, em seu delicioso exagero, dizia que a maior virtude de Pelé era a imodéstia absoluta, a de ter certeza que ele era muito superior a todos. Talvez falte isso a Messi, por ser mais contido, dentro e fora de campo. Mesmo assim, é o melhor jogador do mundo. Cristiano Ronaldo é o melhor do ano.


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