Folha de S. Paulo


Mistérios

Não é nenhuma surpresa o Flamengo ultrapassar o Fluminense na tabela. Sempre que vi o Flu jogar, não entendia porque estava entre os quatro primeiros. Já o Flamengo mostrava que podia evoluir, ainda mais com Oswaldo Oliveira, que sempre organiza bem suas equipes.

Alguns interpretaram minhas críticas aos exagerados e precoces elogios a Gabriel Jesus, como se não visse nele qualidades para se tornar um jogador especial. Pelo contrário, é uma grande promessa. Mas ainda é cedo para tanta exaltação. É também diferente de quando vi Neymar atuar pela primeira vez. Escrevi, na época, que tive a mesma impressão de quando assisti aos primeiros jogos de grandes craques, como Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Zico, Rivellino, Gerson e outros.

Contra o Corinthians, o Palmeiras, novamente, atuou com Gabriel Jesus mais pela esquerda, Dudu pelo centro (tem jogado melhor dessa maneira), sem um meia aberto pela direita, já que Robinho é muito mais um terceiro do meio-campo do que um meia pelo lado. Com isso, abriram-se espaços para o lateral-direito Lucas avançar, o que ele fez bem. Assim, saíram os dois primeiros gols. Por outro lado, o lateral ficou desprotegido, sem ter um meia a seu lado. Assim, o Corinthians fez o primeiro gol.

Com frequência, os jogadores se movimentam e decidem o que fazer no instante do lance. Nós, comentaristas, é que temos o hábito de achar que tudo o que acontece é ensaiado e planejado. Os gols de cabeça, de bolas lançadas na área, uma jogada eficiente, desde que não seja quase a única, ocorre muito mais por méritos de quem cruza e do cabeceador do que de erros de posicionamento do goleiro e dos defensores. Vai depender de centímetros, do acaso, de a bola chegar aqui ou ali.

Quando surge uma jogada, especialmente de um craque, surpreendente, sem racionalizar e sem ele saber a razão por que a fez, penso no mistério sobre como tantos afetos, tantos valores éticos, tantas informações e tantos conhecimentos se juntam para formar a consciência sobre algo.

Faltam melhores zagueiros, mesmo nas principais equipes do Brasileirão. O Palmeiras contratou uns 500 jogadores e não tem um bom zagueiro. São Paulo, Fluminense e outros times têm a mesma deficiência. O clube se preocupa em contratar meias e atacantes e se esquece da zaga.

Se o Grêmio vencer hoje o Corinthians, e o Atlético-MG ganhar do Avaí, embola a luta pelo título. Falta ao Grêmio um elenco mais forte. As ausências de Maicon, que erra pouquíssimos passes, de Luan, o maior talento da equipe, do goleiro Marcelo Grohe, do zagueiro Erazo e de Fernandinho, que se tornou titular nos últimos jogos, enfraquece muito o time. Elias também faz falta ao Corinthians.

Os times brasileiros têm jogado um futebol mais eficiente, agradável, com menos faltas e menos tumulto, apesar dos frequentes e graves erros de árbitros e auxiliares e da ausência dos melhores jogadores, por causa da seleção principal e olímpica. Os treinadores, em vez de uma ou outra reclamação, deveriam se unir contra essa absurda situação, de ter jogos na mesma data das seleções.


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