Folha de S. Paulo


Sentimento de perda

Acabou a excelente equipe do Cruzeiro. Pena! Agora, só existe um bom, razoável, volante, Henrique. Leandro Damião tinha mais chances de ser artilheiro se jogasse no time do ano passado, que criava muitas chances de gol.

Mas há ainda esperanças. O jovem uruguaio De Arrascaeta é um bom jogador. O chileno Mena é superior a Egídio.

Júlio Baptista está muito pesado para participar da marcação, trocar passes no meio-campo e chegar à frente, para fazer gols. Ricardo Goulart fazia tudo isso. Júlio Baptista poderia ser experimentado de volante, posição em que melhor atuou na carreira. É alto, forte, desarma bem e, com a bola, de frente, sem a marcação de perto quando atua como meia, poderia ter um bom passe.

Quem deve melhorar neste ano é o Flamengo. Luxemburgo está certo ao colocar Marcelo mais à frente, para aproveitar sua velocidade e força física, apesar de não ter boa técnica para finalizar. Precisa treinar. Melhor seria se ele atuasse ao lado de outro atacante, mais lúcido e com bom passe. Não há esse jogador no elenco. Para funcionar bem, como o Flamengo tem jogado, com Marcelo sendo o único atacante fixo, os meias têm de chegar à frente e fazer gols.

Contra o Flamengo, Ganso atuou pelo centro. No São Paulo do ano passado, ele jogou pela direita, com a obrigação de marcar o lateral. Fez um grande esforço para isso, mas não é seu lugar. Pelo meio, desde que não se limite a atuar na intermediária do adversário, terá mais a bola e mais chances de dar passes decisivos.

O tempo passa, e continua, no Brasil, a nostalgia para com o clássico meia de ligação. O camisa 10. A tendência, no mundo, é outra, diminuir os especialistas e que atuem em pequenos espaços. É ter meias que joguem pelos lados e pelo centro, de um campo ao outro, e que marquem e ataquem. É ter laterais que, alternadamente, sejam defensores e apoiadores. É ter volantes que desarmem, toquem a bola e avancem para recebê-la. É ter centroavantes que não se limitem a finalizar. É ter goleiros que saibam também atuar fora do gol. É ter zagueiros que possuam bom passe e que não se limitem a atuar muito próximos à grande área.

O futebol brasileiro está sem identidade, não sabe o que quer. São raros os ótimos clássicos meias, e não existe um único excepcional meio-campista, mistura de volante e de meia.

Os argentinos são mais resistentes com o fim dos meias clássicos. Vários brilham no futebol brasileiro, embora a seleção, na Copa de 2014, vice-campeã do mundo, não tenha tido esse jogador. Messi é um atacante, e Di María, um meia pelos lados, com funções ofensivas e defensivas.

Riquelme, um dos maiores clássicos meias, parou de jogar. A Argentina, especialmente os torcedores do Boca Juniors, e todo o mundo estão tristes. O jeito é escutar e curtir um tango, com seu sentimento de perda, de falta.


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