Folha de S. Paulo


O que falta para a paz na Colômbia?

O governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) devem assinar nas próximas semanas o acordo de paz no qual trabalham há mais de três anos. Será apenas o início de outra novela. Para ser implementado, terá de ser aprovado por um plebiscito, previsto para outubro.

Apenas se a opção "sim" sair vencedora será possível dizer que acabou uma guerra iniciada há mais de 50 anos e que deixou um saldo de 220 mil mortos e 8 milhões de refugiados internos, além de ter obstruído as relações da Colômbia com o resto do mundo.

O acordo determina um cessar-fogo bilateral, reparação a vítimas, entrega de armas, reforma agrária, uma Justiça especial e a possibilidade de acesso das Farc a cargos políticos.

Na campanha pelo "sim" estão o presidente Juan Manuel Santos, seus aliados políticos e os principais empresários do país. A campanha do "não" e a da abstenção contam também com atores importantes, como os ex-presidentes Álvaro Uribe e Andrés Pastrana.

Santos sabe que corre um risco ao propor a consulta. Embora a paz seja desejada pelos colombianos, há rejeição a itens pontuais do acordo, como o tribunal que prevê penas menores para ex-guerrilheiros e a possibilidade de que disputem eleições. Muitos colombianos também temem um aumento nos impostos para financiar as obras do chamado "pós-conflito" (reconstrução de estradas e moradias, criação de empregos para ex-guerrilheiros etc.).

Segundo a pesquisa mais recente, 36% dos colombianos votariam pelo "sim", 25% pelo "não" e 36% se absteriam.

Santos acha que uma campanha de esclarecimento mudará a opinião dos céticos. Mas o fato de o presidente contar com apenas 20% de aprovação popular é um obstáculo.

Pensando nisso, Santos convenceu a Corte Constitucional a alterar a Carta. Pela lei colombiana, um plebiscito determina a vitória da opção que obtiver mais de 50% dos votos.

Para o acordo de paz, Santos logrou que o tribunal aceitasse um patamar bem mais baixo, de 13% - ou seja, precisará de 4,5 milhões de votos pelo "sim". Parte da oposição diz que isso é uma manobra inconstitucional.

As artilharias do "não" e da abstenção vêm promovendo atos contra o acordo. Uribe diz que Santos está "entregando o país aos terroristas". Já Pastrana chama o processo de "golpe de Estado".

Como Uribe goza hoje de 60% de popularidade, seu posicionamento nos próximos dias será essencial para o destino do plebiscito.

A paz colombiana interessa a toda a América Latina. Ter na vizinhança um país em guerra é algo terrível em termos humanitários e desfavorece a atração de investimentos para a região.

O Brasil deveria estar mais presente no apoio ao processo no país vizinho.


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