Folha de S. Paulo


'Caldão' de bactérias

Escrevo, literalmente, sob raios e trovões. Quem mora em São Paulo sabe do que falo. Há alguns dias chove por aqui nos finais de tarde, e a vida das pessoas já começa a ser organizada em torno da tempestade... E das enchentes. Bem-vindos à nossa triste rotina de verão!

Com muito estardalhaço, o aguaceiro invade carros, casas e quintais e traz prejuízos ao bolso. Silenciosamente, no entanto, ele arrasta um "caldão" de bactérias que podem causar inúmeras doenças em pessoas e animais. É esse o pior rastro das enchentes. E uma das mais comuns e perigosas é a leptospirose.

Ela é causada por uma bactéria chamada Leptospira interrogans, cujo reservatório mais frequente é a urina do rato. Talvez você se pergunte, então, por que não se fala tanto de leptospirose em outras épocas, já que ratos existem e fazem xixi o ano todo? A resposta é simples: a bactéria morre facilmente em ambiente seco, sob ação de sol forte, mas sobrevive por até 180 dias na água.

Ilustração Tiago Elcerdo

Uma das formas de contágio é pela ingestão de água e alimentos contaminados -por isso as velhas recomendações de manter os alimentos em potes fechados e de não deixar a ração de seu cão disponível o dia todo. Ratos adoram ração!

A outra forma é através da pele. A bactéria penetra no corpo mesmo que ela esteja íntegra, sem ferimentos. De molho na enchente, então, com os poros dilatados, o serviço da bichinha fica ainda mais fácil.

Os sintomas iniciais da doença são iguais aos de muitas outras: vômito, diarreia, pouco apetite, febre, apatia e dor abdominal. A urina só estará escurecida se já houver lesão renal. E as mucosas só ficam amareladas se o fígado já foi atingido.

Não espere isso acontecer; o paciente tem chance de cura apenas se a doença for diagnosticada no começo. Portanto, fique atento ao comportamento de seu cão (gatos são resistentes). E, na hora de socorrê-lo, não se esqueça de usar luvas: a bactéria também entra pela sua pele!


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