RIO DE JANEIRO - A revista "Playboy" desaparece depois de 40 anos no Brasil. As reportagens falam da impossibilidade das revistas masculinas de competir com a pornografia grátis despejada hoje pela internet e apontam que, há anos, nem suas entrevistas, usadas como "proverbial desculpa" para justificar sua compra nas bancas, conseguiam atrair leitores. Concordo com o diagnóstico, não com o julgamento sobre as entrevistas.
De 1979 a 1995, participei de "Playboy" como repórter especial e uma espécie de ministro sem pasta, palpitando e colaborando em várias seções. Nesse período, sempre vimos a entrevista como apenas um dos elementos que deveriam fazer de "Playboy" uma boa revista em qualquer gênero. Igual atenção era dada às reportagens e aos perfis, cartuns, matérias de moda e serviço e a todo o conteúdo em geral. Nosso leitor-alvo era um homem inteligente, consciente de seu tempo, com certo poder aquisitivo, e que, por acaso, gostava também de mulher.
Nossas entrevistas eram as melhores da praça. Partiam de pautas com 300 perguntas, que geravam sete ou oito horas de fita gravada em duas ou mais etapas, com dias ou semanas de intervalo. O lapso era de propósito, para o repórter avaliar o material já produzido e retomar perguntas mal respondidas ou dar novo rumo à conversa. Era instruído a fazer uma só pergunta de cada vez, não tentar preencher os silêncios e nunca interromper o entrevistado quando este estivesse falando. Numa entrevista, a resposta é sempre mais importante que a pergunta.
O resultado de tal esforço pode ser avaliado nas várias antologias já publicadas dessas entrevistas.
E nós, que estivemos lá, sabemos: "Playboy" custou a vida de seu diretor, Mario Escobar de Andrade, morto aos 46 anos, em 1991, de um infarto construído em anos de ardente e compulsivo amor pela revista.