Folha de S. Paulo


De fora da festa

RIO DE JANEIRO - Sem qualquer explicação, o Carnaval voltou e em grande estilo. De dez anos para cá, blocos e bandas são uma realidade nas ruas, sem prejuízo para as escolas de samba, cujos desfiles não perderam nada do seu gigantismo –ao contrário. O Carnaval, hoje, é uma indústria, e mais profissional do que nunca. Convoca categorias que atingem o seu máximo de faturamento nos últimos meses do ano (quando os barracões se tornam linhas de produção), mas há empresas que vivem dele o ano inteiro.

Qualquer escola de samba –vide o magnífico livro "Artesãos da Sapucaí", de Carlos Feijó e André Nazareth (Olhares, 2011)– emprega projetistas, ferreiros, figurinistas, carpinteiros, aderecistas, escultores (em isopor, espuma, metal e de formas em movimento), laminadores, aramistas, vimeiros, empasteladores, batedores de placas de acetato, espelhadores, bordadeiras, chefes de costura, chapeleiros, peruqueiros, sapateiros, tingidores de plumas, estampadores de silk screen, coreógrafos, maquiadores e técnicos em efeitos especiais e iluminação, tudo sob as ordens do diretor de Carnaval. E de um tesoureiro para fazer a escrita e pagar tanta gente.

Já os blocos e bandas –450 este ano no Rio– só saem à rua se se acertarem com a Prefeitura quanto ao percurso, proteção dos canteiros, seguranças e banheiros, e com o Ecad –quanto mais gente nas ruas, maior a mordida da arrecadadora.

Some os ambulantes de cerveja, os promotores de feijoadas e os vendedores de máscaras, chapéus, perucas, tule e asinhas, e calcule o dinheiro que isto movimenta.

O Carnaval tornou-se uma mina. Só uma categoria continua de fora da festa: os que insistem em compor sambas e marchinhas originais. Se vivessem hoje, Ary Barroso, Lamartine Babo, Braguinha, Haroldo Lobo e Luiz Antonio passariam em branco pelos três dias.


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