Folha de S. Paulo


A loja de tudo

RIO DE JANEIRO - Os cadernos de informática e negócios anunciaram há pouco a chegada do Fire Phone, o celular da "gigante do varejo on-line", a Amazon. Segundo as reportagens, ele será uma extensão da plataforma de vendas da Amazon. Um aplicativo chamado Firefly permitirá ao usuário escanear um produto e comprá-lo on-line –sem interferência humana e sem ter sequer de digitar.

Suponha-se num shopping, livraria, revendedora de automóveis ou qualquer lugar onde haja alguma coisa para vender. Se gostar de um livro, um casaco, um carro, o que for, bastará fotografá-lo com o Firefly. O resultado será uma foto em 3D, disparada automaticamente para o site da Amazon. Se o objeto de desejo estiver entre os 100 milhões de produtos reconhecidos por ela –100 milhões!–, a compra estará feita. Você receberá o objeto em casa, e o valor será debitado em seu cartão.

Depois de acionado xis vezes para compras, o Firefly "aprenderá" tudo a seu respeito e passará a supri-lo com sugestões, para dispensá-lo de ir aos lugares para fotografar o que lhe interessa. Mesmo porque, em pouco tempo, esses lugares, reduzidos a reles showrooms, deixarão de existir. Os showrooms do futuro serão só virtuais.

A revista "Wired" classifica o Firefly como "uma loja Amazon de bolso". A Amazon, por sua vez, não esconde que quer ser "uma loja de tudo" –e de forma a dispensar a existência de todas as outras.

Não vi nos textos nenhuma preocupação com o fato de que o Firefly pode representar a morte do comércio de rua –e, agora, também o de shopping–, o fim do varejo, o desemprego, a falência das cidades e o fim de uma relação entre os seres humanos que começou quando, um dia, um deles trocou um machado de pedra por uma pele de mamute com seu vizinho –e, com isso, os dois inauguraram a civilização.


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