RIO DE JANEIRO - Nesta segunda-feira, um australiano disfarçou-se de bispo, foi ao Vaticano e infiltrou-se na abertura da Congregação Geral, a preliminar do conclave que escolherá o novo papa. Burlando normas de segurança, o penetra conseguiu chegar à Sala Paulo 6°, onde se reuniam cem cardeais. Juntou-se a eles, cumprimentou vários e se deixou fotografar em grupo. Descoberto, foi retirado da Santa Sé, não se sabe se pedalando o ar, e posto na rua.
Ralph Napierski, o falso bispo, é um amador. Sua bata não obedecia ao padrão. A faixa roxa na cintura era um vulgar cachecol. O crucifixo e a corrente ao peito deviam ser de camelô. O chapéu preto lembrava um modelo popularizado nos anos 50 pelo cantor Nat "King" Cole. Seu latim era de quinta, e sabe-se lá que outras gafes contra a liturgia o fizeram ser apanhado.
Vê-se que Napierski nunca leu Arsène Lupin, personagem de Maurice Leblanc em 20 romances, de 1907 a 1939. Lupin era o "gentleman cambrioleur", o ladrão podre de chique, insuperável em disfarces e em abrir cofres. Ao esvaziar uma caixa de joias, deixava um cartão: "Com os cumprimentos de Arsène Lupin". Mas, se as joias fossem falsas, o cartão diria: "Arsène Lupin voltará --quando as joias forem verdadeiras".
No Vaticano, fantasiado de arcebispo, Lupin usaria o barrete, a estola e o báculo mais exclusivos da congregação. Seu latim faria inveja aos latinistas profissionais. E, por ter feito direito seu "homework", dirigir-se-ia aos colegas por seus apelidos de juventude no seminário. Ocioso dizer que até de olhos vendados ele saberia o caminho para os tesouros do Vaticano, com os quais rechearia os bolsos fundos da batina, e sairia sem ser incomodado.
E, se quisesse, bastaria a Lupin derramar seu charme sobre aqueles velhos padres para que eles o elegessem papa.