Folha de S. Paulo


A crise da água e o teatrão

SÃO PAULO - A despeito da gravidade do assunto, os governos estadual e federal têm tratado a crise da água em São Paulo com muita irresponsabilidade política, mais preocupados com o resultado nas urnas no domingo do que em encontrar soluções em conjunto para atenuar o problema.

Enquanto milhões de paulistas se perguntam o que acontecerá se não chover forte nas próximas semanas e sofrem com interrupções no fornecimento de água, que a Sabesp, eufemisticamente, chama de "administração da disponibilidade de água", tucanos e petistas travam uma briguinha particular. Se uns dão sempre a impressão de estarem minimizando a situação, os outros fazem questão de pintar o caos.

Alckmin, apesar das imagens desoladoras do Sistema Cantareira, disse que não haverá racionamento, agora ou em 2015. "Não precisamos ter chuva abundante. Pode até chover menos do que a média que ultrapassaremos o novo período seco", afirmou à Folha, argumentando que as outras represas "estão bem cheias" e que "há reserva técnica". Será?

Vicente Andreu, presidente da Agência Nacional de Águas, por sua vez, traça um cenário bem diferente. De modo jocoso, nada condizente com o momento aflitivo, afirmou que "é mais fácil o Palmeiras ser campeão" do que o plano dar certo. Anteontem, em evento organizado na Assembleia pelo seu partido, o PT, por conta do calendário eleitoral, disse que São Paulo está numa condição de "pré-tragédia" e que a Sabesp vai ter de "tirar água do lodo". Em resposta, o deputado José Aníbal, sempre cortês, o chamou de "vagabundo".

Em meio a esse teatrão político, foi implodido o comitê intergovernamental criado em fevereiro para atuar na crise do Cantareira. A agência federal simplesmente abandonou a mesa de discussões.

A boa notícia é que a eleição acaba no domingo.


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