Folha de S. Paulo


Dilma: da política à polícia

Não vai ter golpe. Vai ter impeachment, isso na hipótese mais branda. Também posso começar de outro modo: a queda de Dilma Rousseff vai pôr fim à rotina de golpes institucionais empreendidos pelo petismo.

Dilma teve a chance de renunciar ao poder enquanto seu governo era ainda um caso de "política". Será tocada do Palácio do Planalto por uma penca de eventos que agora são de "polícia". Poucos se dão conta, mas essas duas palavras têm a mesma raiz. Pesquisem.

O que a língua, na origem, uniu, a civilização foi se encarregando de separar em domínios distintos. E só a barbárie as reaproxima.

Na sua luta para se tornar hegemônico, abusando dos instrumentos oferecidos pela democracia para solapá-la, o PT foi além de encurtar a fronteira entre a política e a polícia. Transformou o assalto ao Estado numa teoria do poder. E, assim, corrompeu também o pensamento.

O conteúdo da delação premiada de Delcídio do Amaral não deixa alternativas à ainda presidente. Ela poderia reunir o que lhe resta de dignidade política e, vá lá, de eventual amor ao Brasil e renunciar imediatamente, abreviando a nossa agonia. Ainda há tempo de uma saída turbulenta, sim, mas pacífica.

Acabou, Dilma! Eis a hora, como disse o poeta, em que todos os bares se fecham.

O fim do poder petista é constrangedor, é melancólico, mas nunca deixou de ser previsível. Há 15 dias, num dos debates promovidos em homenagem aos 95 anos desta Folha, um dos presentes citou a palavra "petralha", que eu criei, como evidência de que haveria uma crispação excessiva no debate, com bolsões radicalizados, que se negam a dialogar com adversários. E, por óbvio, nessa formulação, eu integraria um dos extremos do pensamento.

Tive de lembrar que o vocábulo, que já está "dicionarizado", veio ao mundo antes de o PT chegar ao poder federal. Quando fundi "petista" com "metralha" –os bandidos de gibi–, designava aqueles companheiros que defendiam o "roubo virtuoso", o "roubo que redime", o "roubo necessário", o "roubo que aprimora a ordem democrática". Foi a gestão petista de Santo André que me inspirou –aquela que resultou no assassinato de Celso Daniel. Estava escrito na estrela.

Estou entre aqueles que enxergam uma lenta, porém contínua, degradação de valores das instituições brasileiras depois da chegada do PT ao poder. Já assisti, por exemplo, a algumas pantomimas no Supremo que, há alguns anos, eu asseveraria inimagináveis. Mas Roberto Barroso está lá, com seus argumentos mais esvoaçantes do que sua toga, e não me deixa mentir. Fica para outras colunas.

O que se tem hoje no Palácio do Planalto é uma bagunça que obedece a um duplo (des)comando. Uma das cabeças do monstrengo bifronte é a própria presidente, que, dados os fragmentos de raciocínio que deixa escapar, vive numa permanente desordem mental. A outra é o PT, um ente de razão em colapso que, nessa fase de desmanche, já não consegue esconder as evidências de que se transformou numa organização criminosa.

O petismo golpeou a Constituição, golpeou a esperança de milhões de pessoas, golpeou os valores da democracia e da civilidade. É imperioso que seja apeado do poder pelas leis, e seus dignitários têm de pagar por seus crimes.

É verdade! Um outro mundo é possível. Um mundo em que o exercício do poder não se assente na banalização do crime.

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