Folha de S. Paulo


O prazer da política. Ou: ainda Fachin

Fui acusado por alguns bocós de ter dado início a uma campanha "reacionária" (claro!) contra a indicação do advogado Luiz Edson Fachin para o Supremo. Espero, sim, que a maioria dos senadores tenha a responsabilidade de recusar o seu nome. Expus aqui e em toda parte os motivos, ainda que eu me congratule com Dilma: a indicação ajudou a aprovar a PEC 457, a mal chamada "PEC da Bengala".

A presidente definiu um perfil para as cinco indicações que ainda faria se ficar no poder até 2018, e os deputados formaram seu juízo. "Não foi retaliação", dizem os respectivos presidentes da Câmara e do Senado. Que pena! Prefiro pensar que sim. Torna o jogo mais inteligente. É o prazer da política.

É preciso debater o que pensa Fachin. Cadê? Quando foi que começamos a substituir o debate por "likes" e "memes"? A ficar dependentes de bandidos para nos dividir ou nos juntar? A trocar a política pela polícia? A cultivar um ódio displicente pelas convicções? O que foi feito, em suma, do prazer da política, especialmente na imprensa, ou no pouco que dela restou imune àquela inflexão militante das redes (anti)sociais?

Raramente saio por aí acusando fulano ou beltrano de ter cometido crimes. Não porque eu seja bonzinho, mas porque sou de outra enfermaria. As esquerdas me detestam não porque eu as considere bandidas, mas porque eu as considero erradas. E mais erradas quanto mais fiéis a seus propósitos: um psolista pode ser menos larápio do que um petista, mas será sempre mais estúpido. Importa-me menos a agressão dessa gente ao Código Penal do que à civilização –e ambas têm de ser recusadas.

Eu me ocupo mais dos ladrões de lógica do que dos ladrões de dinheiro público – e respeito, sim, quem se dedica ao nobre mister da investigação. Mas há um problema quando já não conseguimos mais nos excitar sem o auxílio de um BO ou de uma investigação da PF ou do MP. Vibrar com esse tipo de coisa não revela uma boa alma, acreditem.

Acho, é evidente!, que alguém que continuou na advocacia privada quando era procurador do Estado não pode ser ministro do Supremo. É o caso de Fachin. Mas o Senado não deve recusá-lo principalmente por isso, senão porque é um militante em favor de valores que afrontam a Constituição. Que os esquerdistas tenham a coragem, ora bolas!, de defender a indicação de um legítimo adversário da propriedade privada e da organização da família como a conhecemos.

Esquerdistas me acusarem de reacionário por revelar o pensamento do candidato sugere que apontei um defeito que queriam esconder. Ora, mas eles não defendem o doutor justamente em razão dos predicados que repudio? Ocorre que essa turma quer xingar e calar vozes contrárias, não debater.

Só a falta de clareza, a disposição de enganar o eleitor ou o compadrio mesquinho podem levar senadores da oposição a referendar o nome de Fachin. Não! Eu nada sei contra a sua honra pessoal. Eu não preciso de ficha policial para me opor a uma indicação ao Supremo.

Homens desonestos podem ter ideias honestas. Homens honestos podem ter ideias desonestas. Os senadores não estão escolhendo os respectivos maridos de suas filhas, mas uma forma de entender o ordenamento social e jurídico. Quando as esquerdas fizerem a revolução, que Fachin seja ministro, ora! Enquanto não, não!


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