Folha de S. Paulo


A ressaca do pós-Copa

A Copa do Mundo se tornou uma febre no Brasil. O país demorou para entrar no clima, mas agora embarcou de vez. Muita gente que não liga para futebol - esta colunista incluída - acompanha até jogo do Irã contra Bósnia. E não é para menos: a competição está emocionante e a infraestrutura deu conta do recado.

O torneio conseguiu reverter o pessimismo que tomou conta do país, depois das manifestações de rua do ano passado, e o governo já colhe os frutos. Com o orgulho de ser brasileiro tomando conta dos corações, pesquisa do Datafolha mostrou que as intenções de voto da presidente Dilma subiram quatro pontos porcentuais para 38%.

A festa está muito animada, mas já começo a ficar com medo da ressaca. Ninguém hoje está com muita paciência para os assuntos chatos da economia, mas o resultado da indústria é um dos sinais de que o enjoo será intenso quando o país acordar da bebedeira.

A indústria brasileira, que não cresce há seis anos, agora está tecnicamente em recessão. De janeiro a maio, a produção industrial caiu 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme o IBGE. Os resultados são ruins em todos os segmentos, mostrando desaceleração na produção de bens duráveis e insumos industriais.

O mais assustador é a queda na produção de máquinas e equipamentos, que chegou a 5,8% nos primeiros cinco meses do ano. É um sinal inequívoco do colapso das expectativas empresariais - ou seja, apesar do otimismo com a Copa, as empresas não estão investindo.

Sem investimento, não vai ocorrer o aumento de produtividade necessário para tirar a indústria do buraco. O país vai continuar estagnado e 2014 é um ano perdido. O governo já identificou a doença, mas continua tratando com o mesmo remédio: redução de impostos para a compra de automóveis. Não vai adiantar, porque o crédito está restrito e as pessoas não vão comprar outro carro novo tão cedo.

Com uma economia tão fraca, não está claro por quanto tempo a presidente Dilma vai se aproveitar da euforia gerada pela Copa, mesmo que o Brasil seja campeão. Muitos acusam a imprensa de ser pessimista, só que não dá para brigar com os números. Hoje o Brasil joga contra a Colômbia e torcida brasileira estará com a seleção, mas quando a festa da Copa acabar no dia 13, será impossível ignorar a dor de cabeça gerada pela economia.


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