Folha de S. Paulo


Campeão antecipado

Se o Corinthians vencer hoje, poderá ser campeão ganhando do Coritiba, semana que vem. Com duas vitórias, chegará a 76 pontos em 34 jogos. Só o Cruzeiro de 2013 e o São Paulo de 2007 ganharam a taça com quatro rodadas de antecedência e só o Cruzeiro, dois anos atrás, alcançou os 76 pontos que o Corinthians pode alcançar em 34 rodadas.

Este é o 13º Brasileirão por pontos corridos e aparentemente será o sétimo com o campeão conhecido antes da última rodada. Não é muito diferente em outros países. Na Inglaterra e na Espanha, três dos últimos cinco campeões foram conhecidos antes do dia marcado.

Há exemplos históricos de vantagens largas perdidas de forma incrível. Na Taça Guanabara de 1968, o Flamengo deu a volta olímpica depois de empatar com o Botafogo, perdeu do Bonsucesso e foi vice-campeão goleado no jogo-extra por 4x1.

Em 1971, Paulo Cezar Caju posou para fotografia com a faixa de campeão, o seu Botafogo perdeu para o Fluminense e ficou em segundo lugar.

Por isso, a obrigação do Corinthians é manter o discurso de candidato, não de virtual campeão: "É preciso mexer com o grupo inteiro", diz Tite.

Mais impressionante do que o (provável) sétimo campeão antecipado é seguir ouvindo perguntas sobre a mudança da fórmula de disputa, a cada vez que uma equipe se mostra muito superior às demais.

O ponto não é esse. É fortalecer os vinte clubes, para ter mais times capazes de equilibrar a briga pela liderança e mantê-la viva até o último dia.

Marco Polo Del Nero não pensa em mudar a fórmula nos próximos anos - aleluia!

Alguns presidentes de clubes, sim. Romildo Bolzan, do Grêmio, é um deles.

Sua opinião é de que deveria haver semifinais entre o campeão turno, o campeão do returno e os dois melhores na classificação geral.

Pois, preste atenção:

O Corinthians foi o campeão do primeiro turno e é líder do returno com quatro pontos de vantagem sobre o Santos e o Atlético. Se ganhar neste domingo (1º) e o Palmeiras vencer na Vila, a supremacia corintiana será de sete pontos só na segunda metade da campanha.

Se o Brasileirão fosse como o presidente do Grêmio deseja, o Corinthians também poderia ser campeão antecipado.

Lembra do Palmeiras de 1996, dos 102 gols, de Vanderlei Luxemburgo, campeão paulista contra o Santos com uma rodada de antecedência? Muita gente diz que aquele Paulistão foi disputado por pontos corridos. Não foi. A fórmula era exatamente como Bolzan planeja para o Brasileirão. Rivaldo e Djalminha não permitiram que as finais acontecessem.

Dos doze Brasileiros por pontos corridos, nove tiveram como campeão o time que fez mais pontos tanto no turno, quanto no returno.

Isso não significa que não exista nada a fazer para ver mais vezes o torneio ser decidido no último instante do último jogo. Dividir o dinheiro da televisão de forma mais equilibrada, buscar patrocinadores para todos os participantes, cuidar para que menos clubes grandes corram risco de se tornarem figurantes, como o Vasco de 2015.

O jeito de fazer isso não é rezar. É analisar, a cada final de torneio, o que evoluiu e o que estagnou. A média de público saltou de 14 mil para 17 mil em 2015 -aproximadamente 20%. É bom.

Mas pela quarta temporada seguida, o campeão disparou.

Não é legal!

Mas não significa que a fórmula de disputa tenha de mudar.


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