Folha de S. Paulo


A escola brasileira

Dunga pode escalar Lucas Lima contra a Venezuela, amanhã. Foi o mais forte pedido da crítica depois do péssimo desempenho de Oscar em Santiago. Oscar não está bem fisicamente e isso é mais grave do que dizer que não joga bem pela seleção.

Joga menos do que pode, mas já fez boas partidas, como na estreia do Brasil na Copa do Mundo contra a Croácia. Seu problema é se assumir protagonista. Aos 23 anos, não está na sua personalidade.

Há uma contradição em nossa relação com a seleção. Ao mesmo tempo em que se passa o ano inteiro dizendo que o Campeonato Brasileiro não tem o nível dos torneios nacionais da Europa, pede-se a estrela do segundo turno do Brasileirão como titular num jogo internacional.

Faz sentido pelo desempenho atual de Lucas Lima e pela sequência de lesões de Oscar. Só que ninguém tem certeza.

É nosso drama desde que o Brasil assumiu seu papel de mero exportador na economia do futebol mundial.

Há dez dias, o repórter colaborador da Folha Alex Sabino conversou com Alex Ferguson e ouviu dele a preocupação maior com a falta de estilo brasileiro do que com a derrota por 7 x 1 para a Alemanha –um acidente, na sua opinião.

Mas como recriar a escola brasileira sem ter parâmetro? Sem saber se quem joga bem aqui jogará bem em nível internacional? A resposta normalmente é que sim, o craque daqui joga bem quando chega lá.

Um exemplo recente é... Oscar!

Saiu do meio de campo do Internacional para se tornar referência do Chelsea.

Willian, Oscar e Filipe Luís são três jogadores que, em conversas recentes, rejeitaram a ideia de que o problema da seleção é a falta de jogadores. Todos jogam com –e contra– estrelas das seleções mundiais. São unânimes em dizer que o Brasil tem tantos bons jogadores –ou mais– do que os rivais.

Tem mesmo.

Montar uma grande seleção depende menos da qualidade da geração atual. Depende mais de melhorar a percepção de que seleção se monta mês a mês, jogo a jogo, com repetição de convocações e sequência do trabalho.

O grupo de elite das seleções não excluiu o Brasil. Ampliou-se. A Islândia está classificada para a Eurocopa e a Holanda, terceira colocada na Copa, quase fora.

Desde junho de 2014, os holandeses tiveram três técnicos diferentes. Não pode dar certo. Nos últimos nove anos, o Brasil recomeçou o trabalho com quatro treinadores. Não tem como funcionar.

O Brasil vai se classificar para a Rússia-2018. A questão não é essa. É construir um time que se agrupe e tenha sempre duas opções de passe, como o Chile fez no segundo tempo, em Santiago. O futebol internacional exige sentido de equipe e montá-la exige tempo. Dunga falha nisso. Nossa cultura também. Ainda estamos à espera de uma jogada individual que leve até o gol.

MERITOCRACIA

Criticar Dunga e acusá-lo de transformar a seleção na campeã mundial dos amistosos é justo. Demiti-lo não é. Não necessariamente. Mas isso não exclui reflexão sobre o modo como os treinadores da seleção são escolhidos há 40 anos. Não é por mérito, mas por indicação. Não por estudo, mas por representatividade. Isso desde João Saldanha, com a gloriosa exceção de Telê Santana.

Tite é o técnico que mais se aperfeiçoou nos últimos 15 anos. Talvez nem seja o melhor representante da escola brasileira. Mas o maior símbolo de que só trabalhar não leva ao posto mais alto do futebol do Brasil.


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