Folha de S. Paulo


A crise dos Estados —e a solução de sempre...

Marcos Santos/USP Imagens
Novo economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, atribui parte da crise à alta dos juros
Notas e moedas de real

Dia desses, um economista entreouviu uma conversa curiosa:

— Pai, me dá uma graninha a mais?

(Economista: opa, conheço essa história...)

— De novo? Filho, você sabe que a coisa está preta. Não reajustaram meu salário pela inflação neste ano, por causa da crise. Todo mundo tem que apertar o cinto. Nada disso.

(Economista: o pai está tentando impor credibilidade; vamos ver se ele se mantém durão... )

— Mas, pai, é por uma boa causa! Para gastar com livros! E pagar umas dívidas...

(Economista: sempre tem uma boa causa!)

— Rapaz, da outra vez você disse isso e comprou dois livros em um ano! E o aumento da mesada acima da inflação que eu lhe dei, graças ao belo preço das commodities?

(Economista: a receita subiu e o moleque pisou no acelerador... Agora não consegue sustentar o padrão de gastos e está desesperado...)

— Dinheiro na mão é vendaval, pai. Lembra a música? Pai, veja a catástrofe que vai acontecer: sem os livros, eu não passo na prova; não passando na prova, não termino a faculdade neste ano e não fico livre para procurar emprego. E tudo só piora. Pode até ter uma rebelião por causa disso...

(Economista: sim, é sempre para o bem de todos... mas alguém está pagando a conta e tendo de apertar o cinto: a mãe, os irmãos....)

— Mas quando eu lhe dei aquela bolada a mais no Dia dos Filhos, a ideia era que você guardasse um pouco para um momento difícil como este!

(Economista: você não sabe que tem uma coisa em economia chamada "inconsistência temporal"? Qual o incentivo do menino a poupar se você sempre dá mais para ele na hora que a coisa aperta?)

— Puxa, pai, mas como eu ia saber? Gastei tudo com a Ritinha! Mas agora eu prometo, prometo que vou me comportar e gastar somente no que gera mais crescimento econômico para a família Brasil! A Ritinha vai entender!

(Economista: ah, tá bom, e por que mesmo ele deve acreditar na sua promessa?)

— Não era Clarinha? Olha, filhão, não dá. A coisa está feia, cortei até a academia.

(Economista: boa, boa, endurece com o garoto, é melhor para ele mesmo a longo prazo e, certamente, é melhor para a família Brasil!)

— Ok, pai, então se eu não passar, a culpa vai ser sua!

(Economista: hum... ele franziu o cenho... Conheço essa reação, está caindo na ladainha...)

— Tá bom, vai, mas é a ÚLTIMA VEZ! Assina aqui nesse guardanapo que você vai controlar seu orçamento de agora em diante, que vai fazer um programa de reestruturação dos gastos!

— Assino sim, opa, é para já! Você vai ver, pai! Mas, pai, gradual, ok? Não dá para fazer ajuste muito abrupto, sabe como é, né?

(Economista: pobre família Brasil, mais uma vez engambelada!)

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