Folha de S. Paulo


Dilma nos EUA, de pires na mão

Um site vistoso da Secretaria de Comunicação Social da Presidência convoca potenciais investidores para o evento "Infrastructure Brasil", dia 29 de junho, em Nova York. Será na véspera do encontro da presidente Dilma Rousseff com o presidente Barack Obama na Casa Branca.

Abrilhantando o seminário de NY, uma procissão de ministros: o titular do Planejamento, Nelson Barbosa, Eliseu Padilha, da Aviação Civil, Antonio Carlos Rodrigues, dos Transportes, Edson Coelho Araújo, da Secretaria dos Portos, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

Dilma fará um discurso de encerramento.

No cardápio, o superpacote de concessões. Ministro após ministro vai tentar convencer os investidores presentes –espera-se um quorum razoável apesar das vacas magras– a aplicar dinheiro em projetos de infraestrutura no Brasil. O site fala em crescimento médio do país de 4% ao ano (média embelezada, digamos), crescimento econômico estável (oscilante?) e "desafios do lado da oferta" que o governo está enfrentando com uma "ampla agenda de reformas" (sic).

"Hoje o Brasil está prestes a entrar em um novo ciclo de desenvolvimento", garante o prospecto. E assegura que o novo programa inclui reformas no marco regulatório que "aceleram o processo de aprovação de projetos, diversifica fontes de financiamento, fortalece os marcos regulatórios".

Tudo muito bonito. Mas, por enquanto, o alardeado pacote de concessões tem poucas especificidades.

A esperança do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é chegar a Nova York com definições mais claras sobre os editais e mudanças no marco regulatório para tornar os investimentos mais interessantes.

O advogado Fabio Falkenburger, sócio da área de aviação do Machado Meyer, acha difícil que haja editais antes de 30 de junho. Mas talvez haja indicações concretas de como vai ser a "modelagem".

"As pessoas estão interessadas no Brasil, mas muito cautelosas por causa da situação econômica e dos escândalos. É muito positivo que o governo esteja querendo ajustar, mas ainda precisamos ver o que há de concreto", diz Carl Meacham, diretor do programa de Américas do Center for Strategic and International Studies (CSIS), que trabalhou muitos anos no Senado com o ex-senador republicano Richard Lugar e circula bem no Congresso.

Segundo Gabriel Rico, presidente da Amcham, há vantagens para potenciais investidores americanos: o câmbio está favorável com a desvalorização do real, juros nos EUA estão bastante baixos para captar financiamento e empreiteiras brasileiras passam por dificuldades.

Mas é vital os termos serem mais amigáveis para as concessões para motivar as construtoras.

Antes da ofensiva nos EUA, o governo brasileiro se prepara para uma rodada prévia de "reconstrução de confiança" durante o Fórum de CEOs, que se realiza em Brasília na semana que vem e terá a presença da secretária de Comércio dos EUA, Penny Pritzker, e de presidentes de empresas dos EUA e do Brasil.

Essa reconstrução de confiança deve começar do básico, da lista de empresas que fazem parte do Fórum de CEOs –na última formação, estavam presentes Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Odebrecht.

Saia justa à vista.


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