Folha de S. Paulo


Cannes é investimento

A propaganda brasileira provou mais uma vez neste último festival Cannes Lions que vai muito bem, obrigado. Conquistou 108 Leões e um inédito Grand Prix de Filme, o prêmio mais respeitado do festival, com um belíssimo comercial da Leica criado pela F/Nazca Saatchi & Saatchi.

O festival de Cannes hoje é obrigatório para qualquer pessoa que mexa com marketing. É uma aula com centenas de professores de altíssimo nível, com palestrantes que vão de Pharrell Williams a Al Gore e temas que vão de tudo sobre o novo mundo digital até o melhor uso da cor no marketing.

O que era um festival publicitário não deixou de ser "o" festival publicitário, mas foi mais longe. É um grande evento de conhecimento mundial. A palavra-chave é aprender. Quem tem coração de estudante aproveita Cannes para valer.

Todos esses 108 Leões são muito importantes, mas nunca podemos perder de vista que o principal objetivo da publicidade é ganhar mercado. Ela tem que ganhar dinheiro para o cliente, dinheiro para agência e até ganhar prêmios. Mas o prêmio é um meio, não um fim. Ninguém vive de prêmio. E a publicidade brasileira é relevante porque ela não é só criativa, ela é eficaz.

Pensar em Cannes apenas como uma competição ou uma fogueira de vaidades é coisa do passado. Hoje, megaempresas de mídia como Google, Facebook e Twitter evangelizam os grandes publicitários de todas as partes do globo em eventos paralelos. As pessoas vão a Cannes muito mais para saber do que para ver. Não há investimento melhor para clientes e agências do que mandar seu pessoal para essa atualização anual e intensiva sobre tudo no mundo do marketing.

Trabalha-se muito em Cannes. É business o tempo todo disfarçado de praia. Você acorda às 7h da manhã e vai dormir exausto e tarde. O networking é o grande programa da noite de Cannes. As agências buscam os clientes e as empresas de mídia; as empresas de mídia buscam as agências e os clientes; e os profissionais da publicidade encontram oportunidades profissionais no mundo todo.

Graças à excelência criativa da nossa propaganda, que já se impõe também nas novas áreas digitais, os publicitários e os profissionais de marketing brasileiros são superdesejados e recrutados justamente em Cannes.

Em tempo de crise, pode parecer despesa desnecessária enviar o pessoal a Cannes. Não é. Numa hora dessas, é investimento estratégico, que traz conhecimento e inspiração.

Em Cannes, você se atualiza num mundo de novidades avassaladoras. Aprende a fazer mais e melhor com menos. É uma medida altamente proativa porque em uma semana se aprende num só lugar o que está se fazendo no mundo todo hoje.

Phill Thomas, inglês discreto, empreendedor incansável, é o presidente-executivo e lidera o festival como se fosse um iPhone, ano após ano trazendo novidades. Por isso, Phill às vezes foi acusado de jogar fora o legado do festival. Longe disso. Phill fez de Cannes o South by Southwest of France.

Então, vamos lá. Mais gente no ano que vem. E de todas as regiões do Brasil. Os custos podem ser bem menores do que o glamour do festival sugere. Com passagem e hotel econômicos, dá para mandar seu profissional ao futuro e trazê-lo de volta. Não precisa gastar com quarto de hotel, ele não vai ficar lá mesmo. O hotel só precisa ser bem localizado, para chegar rápido às atividades. E depois dormir exausto e acordar animado para, em vez de tomar banho de mar, tomar banho de conhecimento o dia e a noite toda.


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