Folha de S. Paulo


As libras de Arno

Quem participou da elaboração do modelo de partilha, no segundo mandato de Lula, viu inúmeras exposições da então chefe da Casa Civil.

Naquelas intermináveis reuniões, Dilma Rousseff dizia que o sistema não teria bônus alto de assinatura, no máximo de R$ 5 bilhões, e que a grande fatia de dinheiro viria do equivalente em petróleo.

Em um leilão feito quase de afogadilho, e em momento difícil para a Petrobras, Libra mostra script diferente do original.

Com as contas públicas batendo no nariz, o bônus precisou ser triplicado para fazer superavit primário.

Arno Augustin, claro, agradece. Serão R$ 15 bilhões no caixa do secretário do Tesouro Nacional este ano. É verdade que o montante afugentou petroleiras menores da disputa, mas também
trouxe fôlego fiscal ao Ministério da Fazenda.

Curioso é que o bônus sequer cobre a meta cheia de 2013. Com ele, o primário deve chegar perto dos 2%, não mais que isso, dizem economistas. Se for assim, o xerife das contas públicas precisará rebolar (ou maquiar?) para honrar seus compromissos.

Difícil imaginar lá atrás que Dilma, agora presidente da República, usaria um pedaço do bilhete premiado alardeado por Lula para cumprir objetivo fiscal.

Enquanto o resultado de Libra ainda está sendo digerido por analistas, assessores oficiais tentam explicar a leigos como um leilão vitorioso recebeu apenas uma proposta, não passou do lance mínimo e fará com que a empresa do próprio governo tenha de arcar com os custos de 40% do consórcio.

Mas o maior desafio é entender como uma estratégia de longo prazo teve de se submeter à necessidade de fechar as contas do ano.

Sabe o que se diz na Esplanada? Que está ficando complicado saber onde termina Arno Augustin e onde começa Dilma Rousseff.


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