Folha de S. Paulo


Moro se declara suspeito para julgar blogueiro

Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress
O juiz Sergio Moro durante o 1º Congresso do Pacto Pelo Brasil, organizado pelo Observatório Social do Brasil, em Curitiba (PR)
O juiz Sergio Moro durante evento em Curitiba (PR)

O juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba, se declarou suspeito e deixou de atuar no caso envolvendo o blogueiro Eduardo Guimarães, ligado à esquerda.

Em março deste ano, Moro havia determinado a condução coercitiva de Guimarães, que depôs na Polícia Federal, além de ter quebrado o sigilo de comunicação dele e ordenado a apreensão de equipamentos e anotações.

A operação apurava o suposto vazamento de investigações contra o ex-presidente Lula.

A decisão de Moro responde a um pedido apresentado pela defesa do blogueiro. O advogado Fernando Hideo Lacerda argumentou, em 27 de março, que existe "inimizade capital e notória" entre os dois, já que eles têm contra si processos na Justiça.

"Embora não exista causa legal para suspeição, a fim de evitar qualquer dúvida quanto à lisura do realizado e da continuidade do processo, acolho, pelo motivo elencado, a exceção de suspeição", afirma Moro no despacho, de 26 de maio.

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania (no centro), deixa a sede da Polícia Federal em São Paulo

Ainda na decisão, o juiz federal afirma que nem "sequer se lembrou dos fatos" que eram objeto de um inquérito policial ou "da petição enviada pelo ora julgador [Moro]".

Guimarães levou uma denúncia contra Moro ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em 2015.

Já o juiz endossou representação da Associação Paranaense dos Juízes Federais que acusou o blogueiro do crime de ameaça, por causa de mensagens dirigidas a Moro em redes sociais. Guimarães diz que houve uma interpretação equivocada.

O magistrado, que afirma não ter "'inimizade capital' com quem quer que seja", inicia a decisão com uma explicação: "Demorei a despachar pois ocupado com processos de acusados presos".

Com a saída de Moro, agora o processo será distribuído para outro juiz.


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