Folha de S. Paulo


É possível evitar o spoiler?

Muitas séries já conquistaram fãs em escala mundial, mas "Game of Thrones" se tornou, de fato, a primeira a ter um alcance global em matéria de exibição.

No esforço de atenuar a pirataria, a HBO tem reduzido o intervalo entre a exibição original, nos Estados Unidos, e nos demais países. Em dezenas de mercados, desde 2015, a apresentação tem ocorrido de forma simultânea. Assinantes brasileiros do canal assistem na mesma hora que americanos da costa leste.

Além de combater um crime, a exibição simultânea reduz os efeitos de um dano colateral incômodo –o spoiler. Quanto maior o número de interessados vendo um episódio ao mesmo tempo, menor a chance de espectadores serem informados, antes da hora, sobre desdobramentos da trama.

Contra o spoiler, porém, restam três questões sem solução. No caso específico dos EUA, há os diferentes fusos horários. A exibição de "Game of Thrones" em horário nobre faz com que moradores da costa oeste vejam os episódios algumas horas depois da primeira exibição.

Há, ainda, o fato de os hábitos dos espectadores estarem mudando. Muitos preferem gravar para ver em outro momento, e não na hora determinada pela emissora.

Por fim, os episódios são comentados em tempo real nas redes sociais, sobretudo no Twitter e no Facebook, o que acaba expondo muitos fãs a detalhes que não gostariam de saber antes da hora.

O segundo episódio da sexta temporada, exibido no último domingo, produziu uma onda de reclamações por conta de um spoiler provocado pela soma destas três questões.

Como se sabe, muita gente já morreu em "Game of Thrones" –precisamente, 704 personagens, até o fim da quinta temporada, segundo um levantamento publicado pelo jornal "The Washington Post".

Democrática, a série não poupa ninguém –heróis, vilões, coadjuvantes e figurantes. É um festival de gargantas cortadas, cabeças decepadas, lanças no coração e envenenamentos, entre outros métodos indelicados de acabar com a vida alheia.

Diferentemente do que se poderia supor, o spoiler não foi sobre nenhuma morte. Mas sobre a ressurreição de um personagem querido. Assim que a cena foi exibida, a notícia se espalhou em alta velocidade.

Para se ter uma ideia, até a capa da revista "Entertainment Weekly", que chegou às bancas no dia seguinte falando da ressurreição, apareceu nas redes sociais na noite de domingo.

A irritação de quem soube do milagre antes de vê-lo com os próprios olhos foi, compreensivelmente, enorme. Mas o que fazer?

Só vejo uma solução para o espectador que não quer saber de spoiler no mundo em que vivemos: sumir das redes sociais.

Por fim, um rápido comentário sobre "Game of Thrones". Não sou muito fã da série –e o fato, justamente, de um personagem ressuscitar ajuda a explicar a razão. Não gosto, igualmente, da carnificina que os criadores parecem ter prazer em exibir a cada episódio.

E também acho estranho o entra e sai incessante de personagens secundários, cuja relevância nunca é claramente determinada, mas que ajudam a deixar o espectador em permanente estado de confusão, tentando guardar nomes e entender relações.


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