Folha de S. Paulo


Palanque na TV

Ainda estamos bem longe das eleições municipais de 2016, mas a movimentação nos bastidores sugere haver a possibilidade de que três apresentadores de televisão disputem a Prefeitura de São Paulo no ano que vem.

Celso Russomanno (PRB) é candidato declarado desde 2012, quando disputou este mesmo cargo e ficou em terceiro lugar no primeiro turno. Dois anos depois, o apresentador do quadro "Patrulha do Consumidor", na Record, foi eleito deputado federal –o mais votado do país.

José Luiz Datena, que comanda o programa policial "Brasil Urgente", na Band, anunciou nesta semana que chegou a um acordo para encabeçar a chapa do PP na disputa pela prefeitura.

Também nesta semana, João Doria Jr., apresentador do "Show Business", na mesma Band, manifestou a intenção de concorrer ao cargo pelo PSDB.

"Política é como nuvem", dizia o banqueiro e político mineiro Magalhães Pinto (1909-1996). "Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou".

Nada garante que o eleitor paulistano encontre estes três nomes na disputa de 2016, mas esta simples ameaça merece a consideração de quem se preocupa com a influência da televisão na política e vice-versa.

Em 25 de outubro de 2012, entre o primeiro e o segundo turnos da eleição municipal, recebi Datena para uma entrevista no UOL. A certa altura, lembrei de um comentário que o apresentador havia feito sobre Russomanno. "Aparecer na TV, com milhões de pessoas confiando em você, te dá uma vantagem. Pode ser legal, mas não é justo."

Perguntei a Datena se apresentadores deveriam ser proibidos de disputar eleições. Ele respondeu: "Proibir, não, mas é injusto. O cara deveria se autoproibir. Não é porque o cara é bom de TV que ele vai ser um bom prefeito."

O apresentador, então, observou que não pretendia disputar eleições: "Eu seria um péssimo político. Eu sou um apresentador que tenho níveis de audiência altíssimos, mas isso não me dá o direito nem a competência de ser um bom administrador".

Acho que Datena tem todo o direito de mudar de opinião, três anos depois. Mas eu não mudei. Continuo achando que a legislação no Brasil deveria ser mais dura no sentido de inibir o que o apresentador chamou de "injusto" –esse trânsito fácil entre a televisão e a política.

Qualquer pessoa que apareça cotidianamente na TV, hoje, só precisa se afastar da tela após o registro da candidatura, o que pode ocorrer, no limite, até três meses antes da data da eleição.

É evidente que um apresentador, ator ou humorista com presença diária ou semanal na televisão parte com vantagem em uma eleição. Não se deve proibi-lo de tentar a carreira pública, mas acho que seria necessário encontrar meios de reduzir ainda mais esta condição de superioridade.

Em todo caso, espectadores mais gaiatos dizem torcer por uma disputa eleitoral entre Russomanno, Datena e Doria. Com este trio, os sempre sonolentos e previsíveis debates eleitorais têm tudo para se transformar na melhor atração da TV brasileira em 2016.


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