Mônica Moura delatou a ingerência do governo do PT em processos eleitorais em Angola, El Salvador e Venezuela. Junto à evidência já apresentada por Marcelo Odebrecht de pagamento de propinas na ordem de US$ 400 milhões em uma dúzia de países estrangeiros, as revelações expõem entranhas até agora desconhecidas das relações exteriores do Brasil.
O escândalo é nefasto, e seu impacto tem alcance além das empreiteiras envolvidas, das operações internacionais do BNDES e da imagem global do PT. Afeta a própria diplomacia do país, que passou décadas a fio construindo boa reputação.
O que fazer?
A prioridade absoluta é reconhecer a existência do problema. Não é o que fez o governo nesta semana: em visita à África do Sul, o chanceler Aloysio Nunes chegou a festejar a suposta identidade do Brasil com a África do Sul de Jacob Zuma, um regime sabidamente cleptocrata.
Para reverter o problema, seria útil praticar a "diplomacia do perdão": o procedimento diplomático pelo qual um governo reconhece equívocos passados como forma de virar a página e seguir em direção a um futuro melhor.
Os casos mais extremos são o pedido de perdão dos alemães pelo Holocausto e dos japoneses pelos crimes da Segunda Guerra. Bill Clinton desculpou-se pela inação americana em Ruanda, e Carlos Menem, pela guerra das Malvinas.
A ingerência em assuntos internos de terceiros países por meio de dinheiro muitas vezes obtido em licitações viciadas ou fraudulentas não se compara a terríveis crimes contra a humanidade. Mas é um espanto que mancha o valioso acervo diplomático do Brasil. E, por isso, o futuro presidente deverá fazer um gesto público de compunção.
Muita gente tentará demovê-lo da ideia. Uns dirão ser uma admissão de fraqueza. Outros alertarão para o risco de eventuais pedidos de reparação. Os mais cínicos dirão que todo país grande pratica corrupção no estrangeiro e melhor seria dar tempo ao tempo, esperando a onda baixar.
O futuro presidente deverá ignorar essa gente e fazer o que mais serve os interesses da sociedade brasileira. Quem pede desculpas pelos erros cometidos revela força, não fraqueza. Um pedido internacional de desculpas é, por si só, fonte de reparação. E esse seria o melhor cartão de visitas do novo sistema de compliance do BNDES.
Restaurar o prestígio internacional do Brasil (e de suas multinacionais) é uma tarefa difícil e de longo prazo, especialmente na América do Sul e na África, dois pilares básicos de nossa presença internacional.
Deveríamos investir nisso, limpando de uma vez por todas a mancha de país exportador de sujeira.