Folha de S. Paulo


A Copa do Mundo com 48 times é uma ótima notícia

Já sabemos as razões para a mudança anunciada pela Fifa esta semana de aumentar de 32 para 48 o número de países na Copa do Mundo a partir de 2026: mais dinheiro e tornar o esporte ainda mais popular no mundo.

Muita gente esperneando, mas tudo que li sobre o assunto não nos dá motivos suficientes para decretar que a entidade vai acabar com o Mundial por inflar o número de participantes e, consequentemente, de partidas, além de mudar a dinâmica da competição. Por enquanto, os argumentos contra parecem apenas saudosismo e medo do desconhecido.

A Fifa quer mais dinheiro? Isso não é novidade e não é moralmente errado. Quer ampliar seu poder em lugares onde ainda tem atuação tímida, ampliando o número de vagas? Podemos não concordar, mas parece natural.

Mas a corrupção será ainda maior porque envolverá mais países, dizem. Bem, já vimos que isso não foi evitado com 32 times na competição. Vamos combinar que corrupção é crime e deveria ser punido e combatido com dois ou 48.

Então, não é um bom argumento.

A única alegação razoável da turma do contra é de que o nível da disputa seria prejudicado porque teríamos a participação de times fracos e sem tradição. É um ponto, mas um ponto frágil. Tradição não garante bom futebol.

Basta lembrar da Copa de 2002, considerada fraca por muita gente, e do que aconteceu com o tradicionalíssimo Brasil, que teve uma atuação chinfrim mesmo antes de cair de joelhos frente à Alemanha em 2014. Por outro lado, foi muito divertido ver a Costa Rica, por exemplo, proporcionar partidas disputadíssimas e cheias de gols.

Quem acompanhou a Eurocopa sabe das surpreendentes atuações do País de Gales e da Islândia.

Então, nem isso é o suficiente para dizer que será um desastre.

A questão é simples: a vida muda e nem sempre para pior. O próprio futebol vem modificando suas regras. Só a experiência vai dizer se as decisões polêmicas da Fifa são de fato equivocadas, como a escolha do Qatar para sediar a Copa, massivamente criticada, por gente como Zico e até Barack Obama. "O Qatar não faz parte da grande cultura do futebol", disse Zico, na época. Com todo respeito ao jogador, um dos meus maiores ídolos, eu pergunto: e daí?

Entre os reais problemas da escolha do país estão as denúncias de corrupção na disputa, o número escandaloso de mortes de imigrantes nas construções dos estádios -que devem virar elefantes brancos no meio do deserto, e a mudança da Copa para os meses de novembro e dezembro por causa do forte calor em junho e julho.

Tirando isso, em tempos de globalização, não há razão para não levar o torneio a lugares em que o futebol não é patrimônio. É apenas purismo de seus defensores, que ignoram a riqueza de ter mais países africanos e asiáticos, por exemplo, na competição.

Tem mais, a Copa do Mundo só se sustenta como evento porque tem mais gente que não sabe o que é tiro de meta assistindo aos jogos pela TV, frequentando os estádio, do que os amantes da bola e jornalistas especializados. Desculpe, amigos, a Copa é para o povão, não para a elite que acompanha o esporte. Quanto mais países participantes, mais torcedores, mais jogos, mais comemorações, mais festa. Nesse sentido,
32 mais 16 é uma conta que fecha.


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