Folha de S. Paulo


Chance de ouro vira medalha de bronze

RIO DE JANEIRO - Foi bonita a festa, pá, mas isso não chegou a ser surpresa. As críticas que precederam os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio diziam menos respeito à capacidade da cidade de sediá-los com sucesso, como foi feito, do que à maneira como se chegaria a isso —com gastos extraordinários, planejamento questionável e futuro duvidoso.

Finda a festa -e, com ela, o ciclo de mega eventos que ocuparam a capital quase anualmente desde 2012—, uma retrospectiva balanceada mostra que o clima geral é de "valeu, mas podia ter sido melhor".

O símbolo maior desse sentimento é a linha 4 do metrô, a mais cara das obras ligadas aos Jogos (R$ 9,7 bilhões até agora) e um de seus principais legados. Sua utilidade é inquestionável, assim como os benefícios que trará para seus 300 mil usuários, segundo estimativas oficiais.

Por outro lado, é uma obra que foi entregue com atraso e incompleta —uma das estações previstas não tem perspectiva de conclusão. Foi também superfaturada, como apontado em relatório do TCE revelado por "O Globo", e, segundo mostrou a Operação Lava Jato, com desvio de dinheiro para corrupção.

Os 16 km de trilhos que ligam Ipanema à Barra são ainda o melhor exemplo da falácia do discurso de "Jogos bancados com dinheiro privado". No contrato original, de 1998, o Estado arcaria com 45% do gasto (àquela altura, R$ 5 bilhões) e a concessionária, com os demais 55%.

Doze anos depois, quando a obra começou, a relação de despesas já havia mudado: o governo pagaria 87% da conta e a iniciativa privada, 13%.

É possível aplicar essa fórmula do "legal, mas..." a tudo que diz respeito aos Jogos: desempenho esportivo, organização, legado, infraestrutura. Sediar os eventos deu ao país e ao Rio uma chance de ouro, mas, sendo generoso, pode-se dizer que a medalha foi de bronze.


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