Folha de S. Paulo


Só o passado pode dizer

Antes de investir, a primeira coisa que queremos saber é quanto vamos ganhar. E, naturalmente, nossa escolha tende a ser a opção mais rentável. Informações sobre riscos, custos e impostos são relevados e, muitas vezes, ignorados.

As únicas aplicações cuja rentabilidade é conhecida antecipadamente são as de taxa prefixada: a conta poupança, que rende TR + 0,5% ao mês –sempre que a taxa Selic superar 8,5% ao ano– e a LTN (Letra do Tesouro Nacional), que pagará a taxa contratada na data do vencimento do papel.

Conhecer a rentabilidade, além de raro, não significa que é a melhor opção. A poupança, por exemplo, perdeu feio para outros investimentos em 2014. Quem comprou LTN e precisou vender antes do vencimento perdeu dinheiro. Por quê? Porque a taxa de juros subiu e provocou perda no valor dos papéis.

A maioria das aplicações disponíveis não diz ao investidor qual será a rentabilidade. Quem se atreve a dizer tem uma chance enorme de errar e oferece péssimo aconselhamento ao ingênuo que pergunta.

O tempo dirá qual foi a rentabilidade em termos absolutos (+7% ou -5%), se houve rentabilidade real (acima da inflação), a rentabilidade líquida (após o pagamento de taxas e impostos). Só o passado pode dizer quanto você ganhou ou perdeu. O futuro? Impossível prever.

A taxa DI em 2013 foi de 8,06%. Com base nesse número, em janeiro de 2014 um investidor poderia esperar algo próximo a isso para os próximos 12 meses. Errado! A taxa DI em 2014 acumulou 10,81%. Arrisca dizer qual será a de 2015?

O Ibovespa perdeu 15% em 2013, perdeu mais 2,9% em 2014. Alguém se atreve a dizer se as perdas continuam em 2015 ou haverá forte valorização? O dólar subiu 15,1% em 2013, mais 12,7% em 2014. Algum palpite para 2015?

Adivinhações à parte, o que estou tentando comprovar é que não é possível prever o futuro e estimar a rentabilidade dos investimentos. O que se pode fazer, com alguma margem de erro, é indicar tendência de alta, baixa ou estabilidade.

As estimativas tendem a falhar porque são feitas com base em informações disponíveis no momento. Fatores divergentes dos esperados e novas variáveis da economia local e mundial irão surgir e alterar, em maior ou menor escala, as previsões.

O que sabemos a priori é a rentabilidade de um parâmetro de referência. As operações de CDB, LCI e LCA, por exemplo, são cotadas em percentual da taxa DI. Se a cotação for de 90% da taxa DI sabemos que o investidor receberá 90% dessa taxa, seja ela qual for.

Dos fundos de investimento só conhecemos a rentabilidade passada. Impossível dizer a rentabilidade futura dos fundos de renda fixa e multimercado, por exemplo. E a CVM, órgão que regula e fiscaliza esse mercado, preocupa-se em alertar o investidor. Exige que todas as peças que divulgam o desempenho dos fundos contenham a frase: rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.

Quando alguém prometer rentabilidade, normalmente muito elevada e acima da taxa de juros vigente, desconfie. Nunca tome decisões de investimento com base em rentabilidade passada. Estude, investigue e procure saber quais foram os fatores econômicos e as estratégias adotadas pelo gestor que produziram a valorização ou desvalorização observada.

Quer saber quanto vai ganhar em 2015? Espere janeiro de 2016 chegar; 2015 será passado, e os números, conhecidos.

DICAS QUE VALEM DINHEIRO

1) 2015 será um ano difícil. Nesse cenário de incerteza, a taxa de juros, que já está alta, pode subir um pouco mais. Invista em operações de taxa pós-fixada, que acompanham a variação dos juros.

2) Evite os depósitos em poupança, cuja remuneração, limitada a TR mais 0,5% ao mês, é bem menor do que outras alternativas de investimento. Em 2014, ela pagou 7%, contra 10,8% de taxa DI, ou 9,18% após IR de 15%.

3) Pesquise ou renegocie os custos antes de investir. À medida que cresce o valor investido, aumenta o seu poder de barganha. Quem pode mais paga menos.


Endereço da página: