Plateias existem para se manifestar. No ano passado, numa mesa com dois jornalistas estrangeiros, deu para ver que boa receita para o aplauso na Flip é criticar a grande imprensa.
Não foi diferente, este ano, na Casa Folha, quando os colunistas Bernardo Mello Franco e Guilherme Boulos debateram "a democracia inacabada" no Brasil.
Mas ali, claro, o tema tinha tudo para acender os ânimos. No dia seguinte, a mesa com o historiador Boris Fausto foi mais amena. Aos 84 anos, ele leu trechos de seu livro sobre a viuvez, "O Brilho do Bronze" (Cosac Naify).
Não foi momento pungente, embora o autor tenha sentido como poucos a morte de sua companheira. Ele estava leve e bem-humorado.
Elogiou Lira Neto pela biografia de Getúlio Vargas (Companhia das Letras), que teria "matado", disse, seu próprio ensaio sobre o personagem.
Mas vá falar de política. "Tínhamos vergonha de usar uma roupa melhorzinha", diz Fausto sobre o passado trotskista. Agora, "aqueles que algum dia foram trabalhadores" consomem vinhos caríssimos...
Aplausos tomaram metade da plateia. Suas críticas à oposição ("vai mal, obrigado"), redobraram a dose. Nenhuma trovoada, por certo, na manhã garoenta –mas uma plateia política, mesmo assim.
Mais garoa houve na participação de Roberto Pompeu de Toledo na mesa sobre a São Paulo de Mário de Andrade, com o sempre cortante e preciso Carlos Augusto Calil.
Toledo leu trechos de seu livro sobre São Paulo de 1900 a 1954. Mencionou a presença da garoa na cidade e, num clichê talvez ainda maior sobre os modernistas de 1922, garantiu que "os rapazes viviam dias de vibrante entusiasmo". Pena que não contagiante.