Na semana passada, conversei com um grupo de jovens advogadas que haviam começado recentemente a trabalhar na City de Londres (centro financeiro da cidade). Uma delas me disse que estava cansada de ouvir perguntas sobre sua idade, da parte de colegas e clientes de meia-idade.
As demais concordaram: pessoas perguntam suas idades o tempo todo, e é algo que elas odeiam. Consideram que essa é uma forma de solapar sua autoridade e de tentar colocá-las no devido lugar.
Quando cheguei ao escritório no dia seguinte, fiz uma pesquisa rápida entre as pessoas mais jovens que encontrei, e perguntei se o mesmo acontecia com elas. Quase todas responderam que sim –não só as mulheres, mas os homens também.
Que desagradável, pensei. Eis mais uma indignidade que a geração da crise econômica precisa enfrentar – eles estão excluídos do mercado de habitação, sobrecarregados de dívidas educacionais, enfrentam dificuldades para encontrar empregos decentes e, quando enfim conseguem uma vaga, terminam punidos por serem jovens.
Mas se considerar a questão com mais atenção, ela é mais complicada que isso. Minha amostra sugere que existe uma diferença na maneira pela qual os sexos encaram o problema
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Para as mulheres, é como se sofressem sexismo e preconceito por idade ao mesmo tempo. Mas para alguns dos homens mais jovens e ambiciosos, a pergunta é uma oportunidade para que se exibam. Poder dizer "tenho 23 anos –e olhem só o quanto já realizei"– é profundamente gratificante.
Mas tanto para os homens quanto as mulheres, em algum momento entre a aproximação dos 30 anos e o surgimento da primeira ruga essa pergunta deixa de ser ouvida. Como se por um acordo tácito, todo mundo para de perguntar.
As únicas pessoas na casa dos 30 anos que ainda ouvem essa pergunta ou obtiveram imenso sucesso (conheço uma jovem de 32 anos que é parte do conselho de uma empresa e ouve muitas perguntas sobre sua idade) ou mulheres grávidas, que ouvem essa pergunta de outras mulheres, preocupadas com a gradual redução de sua fertilidade.
CRIANÇAS
O que há de errado –e muito peculiar– sobre tudo isso não é que perguntemos aos jovens que idade eles têm, mas sim que não façamos a mesma pergunta a todos os demais.
Quando se trata de crianças, idade é a primeira coisa que queremos saber. Mesmo a mais tímida criança está sempre pronta para sussurar que "tenho três anos –e meio". Meus colegas costumam perguntar com frequência a idade de meus filhos, bem como a de meu pai, já idoso. Mas nunca perguntam a minha idade.
Entre os 28 e os 65 anos –ou seja, durante a maior parte do tempo que dedicamos ao trabalho–, fazer essa pergunta é considerado descortês.
No LinkedIn, as pessoas divulgam toda espécie de informação irrelevante sobre si mesmas –entre as quais a de que têm uma "competência" conhecida como "liderança de equipes multifuncionais" – mas nunca revelam a idade. Qualquer pessoa que deseje saber (e certamente todas querem) precisa calcular com base no ano em que alguém concluiu o segundo grau ou iniciou a faculdade.
Nosso pudor quanto à idade, no trabalho, não surge porque não consideremos a idade importante. Pelo contrário: a idade continua a nos fascinar. Sempre que entrevisto uma pessoa, não considero que tenha feito o trabalho devidamente a não ser que revele sua idade em algum ponto do texto. A idade de uma pessoa revela alguma coisa sobre as experiências que ela viveu. É um indicador que permite avaliar se ela está se saindo bem na vida.
Pode haver outros indicadores, melhores, mas a beleza de usar a idade é que é um dado simples e que pode ser aplicado a todo mundo. No mínimo, a idade nos oferece pistas sobre o gosto da pessoa em termos de música pop.
Seria possível afirmar que revelar a idade abertamente poderia resultar em mais discriminação, se bem que eu não veja como. Afinal, não é como se fôssemos cegos com relação a idades ou tratássemos velhos e jovens da mesma maneira. Eles parecem diferentes, e são diferentes.
Recusar revelar a idade de alguém torna a discriminação ainda pior porque significa que aqueles que investiram em Botox ou ganharam na loteria genética e continuam esbeltos e sem cabelos grisalhos se saem melhor em qualquer avaliação do que as pessoas grisalhas e enrugadas.
Na semana passada, eu aconselhei às jovens advogadas que no futuro, quando algum colega perguntasse sua idade, deveriam responder: "27, e você"?"
A última vez que me fizeram essa pergunta de modo tão direto foi quase uma década atrás. Eu estava deitada em uma ambulância e um desconhecido estava debruçado sobre mim, me informando que eu havia sofrido um acidente de bicicleta.
Ele perguntou qual era meu nome, e se eu sabia quem era o primeiro-ministro.
Respondi as duas coisas sem dificuldade. Mas em seguida ele perguntou minha idade. Eu nem fazia ideia. Depois de forçar a memória, respondi, como se estivesse revelando um fato obscuro mas de considerável interesse: "Acho que estou na casa dos 40".
Agora, o galo que a queda causou em minha cabeça já desapareceu há muito, e posso responder com confiança que tenho 54 anos. E meio. É uma idade muito boa de ter. Não é a idade que sinto ter, por dentro (o que se deve ao fato de que, por dentro, idade é sempre algo contingente), mas serve para revelar alguma coisa sobre mim. No mínimo que entrei para a força de trabalho em um momento mais fácil, e que continuo nela.
Tradução de PAULO MIGLIACCI