Folha de S. Paulo


Novo 'Drácula' exagera em citações

Com tantos vampiros, zumbis e bruxas soltos pelas séries, somar mais um parece desnecessário. Mas a rede americana NBC discorda, e para tirar sua fantasia de horror da vala comum de ficções contemporâneas (umas melhores, outras piores) escolheu o "Drácula" clássico, do irlandês Bram Stoker, sem tirá-lo da era vitoriana que o concebeu.

A produção caprichosa entregue aos responsáveis por "Downton Abbey" e dividida em dez capítulos estreou nos EUA no último dia 25, fazendo dobradinha com "Grimm". Atraiu 5,3 milhões de espectadores no primeiro episódio, e 3,4 milhões no segundo, índices até ok para o padrão americano, embora abaixo da antecessora e da concorrência.

A escorregada entre episódios, mesmo sendo o segundo bem melhor, raramente prenuncia algo bom.

Mas é Drácula, há a chancela da gigantesca NBC, a adaptação é razoavelmente fiel, o galã irlandês Jonathan Rhys Meyers (de "Matchpoint" e "The Tudors") faz o personagem-título, a direção de arte e a fotografia são hipnotizantes e há um poço aparentemente inesgotável de referências de onde a série bebe.

Divulgação
Jonathan Rhys Meyers interpreta Drácula na nova série do canal NBC
Jonathan Rhys Meyers interpreta Drácula na nova série do canal NBC

Então o que pode estar errado?

A série é chata. E o maior problema pode ser exatamente esse excesso de citações, explícitas ou não.

Do industrialismo do "Frankenstein" de Mary Shelley (1818), lançado 80 anos antes, até os movimentos lentos das lutas de "Matrix" (1999), passando por ninjas, belle époque, Aldous Huxley, Dan Brown, vudu e a contraposição contemporânea entre velha e nova economia (petroleiros vs. messias digitais), é muita coisa para captar e digerir.

Ninguém precisa conhecer nada disso para entender a trama --são vampiros, afinal. Mas a tentação existe, e o excesso quase carnavalesco torna tudo cansativo demais.

O novo "Drácula" traz Rhys Meyers como o conde romeno Drácula, que chega à Londres sombria da segunda metade do século 19 graças ao explorador Abraham van Helsing (Thomas Kretschmann, ótimo), originalmente seu inimigo.

Apesar da suspeita mútua, os dois forjam uma aliança para se vingar da Ordem do Dragão, uma espécie de seita Illuminati formada por industriais petroleiros que no passado caçou bruxas e foi responsável pela morte da mulher do vampiro e pelo fim da família Van Helsing.

Para atingir o objetivo, Drácula se apresenta como o empreendedor americano Alexander Grayson, que quer levar à nata britânica a tecnologia wireless de eletricidade. No caminho, porém, está a estudante de medicina Mina Murray (Jessica De Gouw, linda e competente), reencarnação de sua mulher. Em suma, é isso, algum sexo e muito sangue.

Há sinais para manter a esperança de que a série talvez pegue no tranco nos próximos capítulos, mas pensar em novas temporadas parece excesso de boa vontade. A menos, claro, que o livro seja subvertido em alguma trama pós-adolescente --o que seria outro exagero.

"Drácula" ainda não tem data para exibição na TV brasileira, mas está disponível no iTunes


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