Folha de S. Paulo


Cubanos pelo mundo afora

Fiz uma giro de conferências e apresentações de meus livros em várias universidades do centro, noroeste e nordeste dos Estados Unidos. Cidades às vezes remotas, como Portland, Estado de Oregon, ou Norman, em Oklahoma. E em todas elas, em cada uma de minhas palestras houve vários cubanos presentes na plateia. Cubanos de diferentes gerações, que tinham deixado a ilha em diferentes épocas, acadêmicos ou simples interessados na cultura de sua terra de origem.

Em meus já longos anos fazendo este trabalho que complementa meu trabalho de escrita, estive em países tão distantes como Bulgária e Polônia, em pequenas cidades alemãs, em paragens francesas e latino-americanas distantes, e... sempre em meus auditórios houve pelo menos um cubano.

No Brasil, eu os encontrei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília. Em Liverpool, na Inglaterra. Em Palermo, na Sicília.

A magnitude da diáspora cubana é uma realidade social e histórica que pude comprovar com minha experiência pessoal. Pessoas que deixaram o país para mudar seu presente e seu futuro, mas que não querem perder os vínculos com sua cultura de origem e aproveitam qualquer oportunidade para alimentá-los. Como a oportunidade de ouvir um escritor que chegou da ilha, com suas conferências e leituras, seu sotaque de Havana e alguma anedota sobre o cotidiano do país.

Há cubanos para os quais é menos difícil manter esse pertencimento. Os que vivem em Madri, Miami ou Paris têm possibilidade frequente de sustentá-la com a presença de pessoas recém-chegadas da pátria, e às vezes podem fazê-lo sem mudar de língua. É mais difícil para os cubanos que foram parar em Copenhague, Cracóvia ou Lillihammer (Noruega), por onde muito raramente passam outros compatriotas.

Muitos desses cubanos optar por passar o resto de suas vidas em outros países e culturas, lutando pela integração a partir de uma saudade nunca vencida (amorosa ou dominada pelo ódio) de algo que um dia foram com toda plenitude.

Muitos deles criaram famílias, com outros cubanos ou com pessoas das terras para as quais emigraram. Em países onde não se fala o idioma espanhol, seus filhos são bi ou trilíngues, embora o idioma paterno tenha passado a ser um código familiar e as histórias da ilha, uma pré-história que afeta apenas eles. Esses filhos de cubanos que não nasceram em Cuba são cada vez menos cubanos... ou definitivamente já não o são nem o serão.

Desde que o homem existe, o movimento geográfico fez parte de sua história de sobrevivência. A emigração, tal como a conhecemos na era moderna, tornou-se necessidade ou alternativa para milhões de seres humanos. Entre eles os cubanos.

Só que, por eu também ser cubano e viver na ilha, ouço entre esses compatriotas da diáspora os sons de sua luta contra o desenraizamento e enxergo em seus filhos a distância cultural que fará com que, para eles, seja menos importante ""ou até impensável –passar algumas horas ouvindo um cubano falar de seus livros e da cultura de uma pequena ilha do Caribe chamada Cuba.


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