Folha de S. Paulo


No pior Brasileiro desde 2003, o que sobrou de positivo foi pouco

Cássio, Nenhum, Balbuena, Geromel e Diogo Barbosa; Michel, Hernanes e Thiago Neves; Dudu, Luan e Jô.

Eis a seleção da coluna para o Brasileiro a duas rodadas do fim, com campeão antecipado em três e time já devidamente degolado -sem causar lágrimas e sem fazer falta.

O campeão não desperta suspiros e o acúmulo de negativas logo de cara, mais um "Nenhum" na lateral-direita, revelam o estágio do futebol jogado no país em 2017, por mais que o Grêmio possa vir a ser o vencedor da Libertadores, a léguas da Liga dos Campeões da Europa.

De bom mesmo na temporada tivemos o desempenho da seleção brasileira nas eliminatórias para a Copa da Rússia, também a quilômetros de representar o dos clubes no Patropi.

A arbitragem, como sempre, ainda deixou muito a desejar, capaz de anular gols de jogador com três metros de posição legal (de Jô, contra o Flamengo, no primeiro turno), validar gol de braço (de Jô, contra o Vasco, no segundo) e até de invalidar gol do Goiás contra o Inter, na Série B, sem saber por que, menção à segunda divisão feita aqui apenas pelo tamanho do absurdo. Bem-vinda VAR (vídeo-árbitro)!

De resto tivemos cenas de pugilato explícito entre Rhodolfo e Felipe Vizeu, ambos do Flamengo, com direito à cabeçada do atacante no zagueiro e dedo pornográfico em comemoração de gol.

Ao menos pudemos celebrar a permanência vigilante do presidente da CBF, tão concentrado no campeonato que nem sair do Brasil saiu -o Marco Polo que não viaja, por ser mais vigiado que vigiar, impedido, aí sim em situação ilegal, de viajar, jogo de palavras que lembra trocadilho, mas simples constatação.

Não temos ainda o artilheiro do Brasileiro, disputa gol a gol entre dois centroavantes experientes que deram belíssima volta por cima neste ano -Jô x Henrique Dourado.

Por mais que Renato Portaluppi e Jair Ventura mereçam menções honrosas, inescapável eleger Fábio Carille como o melhor técnico, tal a mágica que produziu para conduzir o Corinthians ao seu título mais improvável em 107 anos de história, até mesmo menos previsível que o de 1990, porque conquistado em sistema de mata-mata, no qual tudo é possível.

Nunca jamais tínhamos visto um primeiro turno que terminasse com seu líder invicto em 19 jogos, recorde para se guardar e aguardar quem se aventure a quebrar.

A média de público segue baixa, baixíssima, inferior a 16 mil pagantes por jogo, atestado maior de indigência merecido pela cartolagem nacional.

Houve gols lindos, lindíssimos, como o de Jonathan, do Furacão, em Itaquera, ao entrar pela direita driblando a defesa corintiana, então único meio para vazá-la, quase perfeita que andava.

Ou de Otero, do Atlético-MG, do meio de campo, contra o Coritiba, o famoso gol que quase só Pelé não fez, mas ensinou que era possível fazê-lo, numa dessas fabulosas ironias do futebol.

A taça será entregue neste domingo (26) para as mãos que mais fizeram, com os pés, por merecê-la.

Com os votos de que, no ano que vem, os clubes mostrem ter aprendido a disputá-la ao mesmo tempo em que correm atrás da Copa da Brasil e da Libertadores.

A ignorância colaborou para o nível baixo.


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