Folha de S. Paulo


Venham os Neandertais

Que delícia: George Church, 58, geneticista da Harvard Medical School, lançou a bomba. Neandertais? Sim, eles extinguiram-se há mais de 30 mil anos.

Mas, tecnicamente falando, talvez fosse possível ressuscitar um desses antepassados. Como? Através do respectivo DNA fóssil. Depois, era só implantar células estaminais (e neandertais) no útero de uma mulher com espírito de aventura e, nove meses decorridos, haveria um belo rebento. Ou, pelo menos, um rebento.

A entrevista foi à "Der Spiegel" e, alguns dias depois, a vetusta revista alemã teve que serenar os ânimos dos leitores e, sobretudo, das leitoras. Para começar, houve erro de tradução: o professor Church falava apenas de uma hipótese técnica, não de um desejo real de clonagem.

E, além disso, as cartas de mulheres com espírito de aventura não paravam de chegar. Confirma-se: quando uma mulher chega a uma certa idade, ela está disposta a tudo. Até a ter um filho Neandertal.

O que, bem vistas as coisas, não seria um mau negócio. Que sabemos nós dos Neandertais?

Recuo de memória até às minhas aulas de Pré-História e encontro um sujeito de corpo maciço, com altura decente (1,60 m a 1,70 m) e um crânio mais alargado do que o nosso, o que permite supor um desenvolvimento cerebral considerável.

Além disso, os Neandertais do Paleolítico Médio já mostravam um domínio manual que excedia, em muito, todas as proezas dos seus antepassados. O Neandertal sabia fazer armas e flechas. Raspadores e furadores. E manejava o fogo como ninguém.

A extinção da espécie é um mistério, sobretudo quando sabemos que ela foi substituída no longo processo da evolução humana por exemplares mais raquíticos e com cérebros menores. Ou seja, por mim e por você, pobre leitor.

Com alguns Neandertais na praça, haveria pelo menos maior variedade de escolha. Não sei, honestamente, se uma Maria Neandertal faria o meu gênero, embora a depilação total seja hoje um tratamento disseminado.

Mas, para as donzelas, haveria pelo menos homens com corpos pujantes, com talento para os trabalhos manuais lá em casa - e, quem sabe, com cérebros suficientemente extensos para abarcarem um pouco mais do que cerveja e futebol.

O professor Church que pense no assunto. E as mulheres com espírito de aventura também. A nossa espécie já deu o que tinha para dar.


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