Folha de S. Paulo


O terror livre

Marcar uma data em que os jornais de todo o mundo publiquem em suas primeiras páginas a charge que, há oito anos, dispôs o fanatismo a prometer a vingança ontem consumada em Paris –o que conviria é uma resposta deste gênero, em uníssono mundial, para demonstrar aos fanáticos que a sua violência pode tornar universal o que pretendem reprimir. Mas o que os governos preparam é o de sempre.

Três pessoas, apenas. E reduzem a lixo os bilhões de euros, bilhões de dólares e gigantescos dispositivos policiais-militares destinados a imobilizar o fanatismo terrorista. Nada mais estúpido do que os "serviços de inteligência". Sob a inspiração da CIA, esses serviços, de nacionalidades incontáveis, coordenam-se mundo afora, com as mais indecentes violações dos direitos civis. Mas de repente passa-se a ver notícias de um exército enorme, muito bem equipado e treinado, conquistando em poucos dias vasta porção do Oriente Médio. E os tais serviços de inteligência e seus respectivos governantes surpreendem-se tanto quando nós com esse tal "Estado Islâmico", que não sabem de onde vem, para onde quer ir e vai, nem conseguem detê-lo.

A história ensina que o mundo tem fases de imbecilização, variáveis no alcance e na vigência. Está em uma delas há décadas.

O ESPECIALISTA

Os adversários do deputado Eduardo Cunha na disputa pela presidência da Câmara não têm por que ficar otimistas com a notícia de que ele está citado na Lava Jato, e deverá ser objeto de inquérito no Supremo. A notícia tanto pode prejudicar Eduardo Cunha como pode eriçar os ânimos dos seus aliados.

Eduardo Cunha está habituado a circunstâncias assim. Já bateu na trave em várias situações de escândalo: como integrante do grupo de PC Farias no governo Collor, quando esteve na companhia de habitação fluminense no governo Garotinho, em Furnas, em sombrias versões e transações com uma refinaria privada no governo Sérgio Cabral. E lá está ele como favorito, até agora, para controlar a Câmara. Eduardo Cunha é especialista em confusões.

Além disso, o previsto pedido do procurador-geral da República ao STF, para inquérito contra o deputado, seria posterior à eleição na Câmara, a ser feita no dia mesmo de retorno da atividade parlamentar, no início de fevereiro.

O CORRETO

O confronto aberto com a ministra Kátia Abreu por Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Agrário, promete diversão duradoura. O risco da líder do agronegócio não está só na convicção equivalente e contrária de Patrus. Está em que ele saque a Constituição, na qual se define a finalidade social da terra, e puxe a fita métrica que comprova a existência de latifúndio no arraial mesmo de Kátia Abreu. Ou não haveria por aqui tantos reis e rainhas da soja.

Mas, desde logo, não dá para aceitar a tese da ministra de que "o correto é o governo fazer as hidrovias e depois concessionar [ui] para a iniciativa privada". Esse é o método vigente. O correto é outro: o governo faz a concessão, que é uma forma de arrendamento, e o concessionário obterá lucro do investimento que faça, não de investimento público.

Em caso de dúvida, à ministra e a seus associados basta lembrar-se dos filmes de faroeste sobre a construção das estradas de ferro e as hidrovias que alastraram o progresso no território americano. E eram os séculos 18 e 19.


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