Folha de S. Paulo


Ciência e amor

O neurocientista Gregory Berns, da universidade norte-americana Emory, procura, em suas pesquisas, responder a uma pergunta com ares de obviedade para os chamados "cachorreiros". Cães "amam" seus donos ou a relação é baseada numa simbiose milenar, em que os animais demonstram fidelidade em troca de comida e proteção?

O verbo "amar" é naturalmente colocado entre aspas. A expressão canina poderia ser mais precisamente descrita como sensações apenas semelhantes às que nós, humanos, experimentamos no mundo afetivo. Mas, diferenças à parte, Berns mostra-se taxativo quando perguntado sobre "paixões" caninas por seus donos: "Sim. Eles nos amam".

Ilustração Tiago Elcerdo

No ano passado, o pesquisador publicou o livro "How Dogs Love Us: A Neuroscientist and His Adopted Dog Decode the Canine Brain" (Como os Cães nos Amam: Um Neurocientista e Seu Cão Adotado Decodificam o Cérebro Canino), mostrando resultados iniciais de seu trabalho. Para embasar a investigação, Berns enfrenta o desafio de colocar os animais em testes nas máquinas de ressonância magnética, tecnologia tão eficaz quanto barulhenta, para acompanhar a atividade cerebral dos mascotes.

"Pensei que, se cães militares podem ser treinados em áreas de perigo e pular de helicópteros, então certamente poderíamos treiná-los a ficar imóveis dentro de um scanner de ressonância magnética", afirmou o neurocientista, segundo o jornal britânico "Daily Mail". Gregory Berns também apontou a importância de seus estudos para aprofundar a compreensão do papel canino na evolução humana.

Fascinado por esse tema, da parceria homem-cão, já me preparei para adquirir o livro. Pensei também em Lela, vira-lata da minha matilha. Protagoniza um dos vários exemplos do dia a dia que inspiram a busca científica de Berns. Quando vou alimentá-la, no sítio, ela demonstra um interesse secundário pela ração. Só vai comer depois de vários carinhos e lambidelas.


Endereço da página: