Folha de S. Paulo


Fonte da juventude

SÃO PAULO - IAT, a sigla inglesa para Teste de Associação Implícita, é o nome da técnica que revolucionou os estudos sobre o preconceito. Ao avaliar a facilidade com que associamos categorias como negros, gays, gordos, velhos etc. a conceitos positivos e negativos, ela permite não apenas acessar o inconsciente como também medir nosso grau de preconceito implícito, isto é, aquele que não admitimos nem para nós mesmos. Nesta coluna antiga dou mais detalhes de como o IAT funciona.

E o que o IAT revela sobre o preconceito contra idosos, que está sendo objeto de uma série de reportagens da Folha? Há na discriminação etária um par de paradoxos bem intrigantes, como revelam Mahzarin Banaji e Anthony Greenwald no excelente "Blindspot" (ponto cego).

Para começar, há a constatação de que, apesar de não se ter notícia de discursos de ódio ou mesmo de hostilidades sistemáticas contra idosos, o preconceito em relação a esse grupo é forte e disseminado. Quando medido pelo IAT, apenas 6% dos norte-americanos associam a velhice a algo positivo, contra 80% que relacionam juventude ao bem. Esse mesmo fenômeno aparece também em sociedades asiáticas, onde o respeito pelos mais idosos é tido como traço cultural marcante.

Mais interessante ainda, os próprios idosos exibem, pelo IAT, níveis de preconceito contra os mais velhos semelhantes aos demonstrados por jovens, diferentemente do que ocorre com outras discriminações, nas quais membros do grupo desfavorecido costumam ser menos afetados pelos estereótipos negativos.

A dissonância cognitiva se resolve quando usamos o IAT para avaliar como os idosos veem a si mesmos. O resultado, surpreendente, é que tanto jovens quanto idosos associam automaticamente seu eu com juventude, e não com velhice. Para os nossos cérebros, velho é só o outro.

Seria o segredo da juventude eterna, se o corpo acompanhasse os desejos do cérebro e não fosse parando de funcionar direito.


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