Folha de S. Paulo


Privatizar a Petrobras?

SÃO PAULO - A revelação de ubíquos esquemas de corrupção na Petrobras faz com que muitos defendam a privatização da empresa.

O argumento me parece um pouco ingênuo. Se estar em mãos de particulares fosse garantia de não corrupção, diretores de grandes empreiteiras não estariam hoje na cadeia. Daí não decorre, é claro, que a privatização não possa servir como remédio para vários males que em maior ou menor grau assolam as estatais.

O filósofo Peter Singer, num livrinho de 1999 em que defende que a esquerda passe a encampar o darwinismo em vez de combatê-lo, coloca bem o problema. No papel, isto é, de modo abstrato e sem considerar a natureza humana, a melhor forma de prover bens e serviços à população seria o monopólio estatal. Ele tem as vantagens proporcionadas pelos ganhos de escala e não precisa distribuir lucros entre os acionistas.

Na realidade, porém, um bom sinônimo de "ineficiência" é "monopólio estatal". Isso ocorre porque é da natureza dos seres humanos trabalhar melhor quando o fazem por razões egoístas, isto é, pela vontade de ganhar dinheiro e prestígio. Se os responsáveis por tocar o dia a dia da empresa não se beneficiam de seu sucesso, o resultado é um divórcio entre os interesses da organização e os de seus trabalhadores, o que gera, na melhor hipótese, ineficiências, e, na pior, corrupção generalizada.

Daí não decorre necessariamente que a Petrobras tenha de ser privatizada, mas não há dúvida de que ela precisa incorporar hábitos de empresas particulares, como arregimentar seus diretores por critérios de competência e não por indicações políticas.

Segundo Singer, um dos grandes erros da esquerda foi acreditar que não existe uma natureza humana fixa, o que permitiria ao sistema forjar homens melhores. Nossa natureza é híbrida: somos capazes de cooperar uns com os outros, mas não hesitamos muito em tirar vantagem quando as condições se oferecem.


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