Folha de S. Paulo


Na TV, duas Dilmas

Depois de usar Lula para pedir um segundo mandato e tentar "explicar" o crescimento pífio do país, Dilma Rousseff acertou o tom de sua campanha na TV nesta quinta-feira (21) e escancarou, com imagens e exemplos grandiosos, o que vem fazendo pelo Brasil.

Está tudo atrasado, mas está lá. Casos da transposição do rio São Francisco, da usina de Belo Monte e da ferrovia Norte-Sul, essa com fortes suspeitas de superfaturamento, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União).

Trechos da Norte-Sul já haviam até sido "inaugurados" por Lula em dois eventos, em 2010, sem estar funcionando. Também em 2010, Lula foi à obra de transposição em duas oportunidades e prometeu trechos que ainda não estão totalmente finalizados. Já boa parte da geração de energia pela usina de Belo Monte deve atrasar pelo menos um ano.

Mas OK. Há muitos caminhões, poeira e operários de capacetes para mostrar na TV. De forma bem popular até: uma torre de transmissão é tão grande que tem "só 29 metros a menos que a torre Eiffel". Outra barragem usou concreto suficiente para "para construir 48 Maracanãs".

Os primeiros programas eleitorais de Dilma na TV mostram as duas faces de seu governo na área econômica.

De um lado, o fracasso total em atrair o setor privado, que é quem realmente tem dinheiro grosso nesse país, para acelerar investimentos, arrecadar impostos e fazer a economia crescer de verdade. Coube a Lula culpar uma crise internacional de seis anos atrás pelas dificuldades de Dilma em se entender com os empresários.

De outro, a necessidade e vocação da "gerente" Dilma de tocar obras estatais de grande porte e fundamentais. E de destinar parte do dinheiro público a programas que diminuam as desigualdades sociais. Ótimo que ela tenha algo a apresentar.

Mas, apesar das "grandes obras" mostradas na TV, o Brasil neste ano deve crescer menos de 1%. O mau humor reina no meio empresarial e a Bolsa sobe cada vez que aparecem dificuldades no projeto de reeleição da presidente.

Para poder continuar com seu papel de "gerentona" e a usar capacetes de plástico em peças de campanha, Dilma precisa de impostos que só uma economia dinâmica e otimista pode sustentar.

Caso contrário, a conta não fecha.


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