Folha de S. Paulo


Brilho na estante

Faz quase 20 anos. Este colunista, então repórter iniciante, de repente viu-se mergulhado no mundo do esporte a motor. Designado para a cobertura da Indy e eventualmente da F-1, procurou aprender mais sobre o assunto.

A internet era incipiente. Restavam as revistas, livros e filmes. Mas que livros? E que filmes?

"Autosprint" e "Autosport", as melhores revistas segmentadas, chegavam ao Brasil com duas semanas de atraso. E eram poucas as bancas de São Paulo que as recebiam –eu visitava com frequência uma que havia no aeroporto de Congonhas, e não raro saía de mãos abanando.

Filmes? O negócio era procurar um VHS de "Grand Prix" e olhe lá. Um viva para a 2001, locadora mítica na avenida Paulista.

Quase todos os livros eram estrangeiros. A bibliografia de automobilismo no Brasil era paupérrima. Foram várias incursões ao Banco de Dados da Folha e ao Centro Cultural, na rua Vergueiro, em busca de recortes de jornal, panfletos, livretos, o que fosse...

Quando sobrava um dinheiro, dava para fazer uma encomenda na Leonardo Da Vinci, da avenida Rio Branco, no centro do Rio, que até hoje orgulhosamente ostenta o slogan "livros do mundo desde 1952".

Toda essa digressão porque fui procurado dia desses por um estudante de Jornalismo que planeja fazer seu trabalho de conclusão de curso sobre Jacarepaguá. Ele buscava referências não apenas sobre o circuito carioca, mas também sobre a história do automobilismo brasileiro.

Comecei a enumerar sugestões. Lembrei de outras depois.

Daí o motivo desta coluna: na contramão do insucesso do automobilismo brasileiro no exterior, o país tem produzido boas obras sobre o esporte.

Historiadores como Paulo Scali e Paulo Peralta têm livros essenciais como "Circuitos de Rua", "Bino, A Trajetória de Um Vencedor", "Circuito da Gávea", "Chico Landi" (esses quatro, de Scali), "24 Horas de Interlagos, A História" e "Glamour e Tragédia na Origem de Interlagos" (ambos de Peralta).

O próprio Peralta mantém um site primoroso, o "Bandeira Quadriculada". Nesta seara, foi uma ótima notícia o lançamento recente do "Conexão Saloma", do Luis Salomão.

A produção de filmes também anda acelerada. Há pouco mais de dois meses, escrevi aqui sobre "Ayrton, Retratos e Memórias", série do Canal Brasil produzida por Ernesto Rodrigues. Na semana passada, a ESPN levou ao ar "Paixão, Suor e Graxa", linda homenagem aos pioneiros do automobilismo brasileiro, dirigido por Michel Dubret e Alethea Miranda.

Outros dois filmes que prometem estão no forno, já com teasers na internet: "Eu Queria ser Chico Landi", de Paulo Pastorelo e Guga Landi, e "Circuito da Gávea", de Cesário Mello Franco, que já tem no CV o excepcional "A Era dos Campeões".

Não, não somos uma Inglaterra. Mas estamos muito melhores do que anos atrás.

Pelo menos na produção de conteúdo sobre automobilismo.


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