Folha de S. Paulo


Investimento de risco

"O que começou como uma solução desesperada para garantir a estreia de Justin Wilson pela pior equipe da F-1 acabou se revelando um ótimo negócio. Encerrada na semana passada, a venda de ações do piloto na Bolsa de Valores de Londres superou as expectativas."

Em 6 de junho de 2003, esta Folha noticiava assim uma das ideias mais geniais que alguém já teve para conseguir uma vaga na F-1.

Sem dinheiro e buscando incessantemente o sonho de correr na categoria, Wilson e então seu empresário, o ex-piloto Jonathan Palmer, bolaram um plano mirabolante: lançaram-se na Bolsa.

A operação oferecia aos investidores 10% de tudo o que o inglês recebesse na F-1 até 2012.

Os prospectos citavam as conquistas de Wilson nas categorias de base, enalteciam suas qualidades e cravavam: o capital aplicado deveria dobrar após três Mundiais.

A cota mínima era de US$ 750. O alvo era o público da F-1, especialmente ingleses saudosos de ver um compatriota lutando por título. Àquela altura, Button era um iniciante, e Hamilton ainda estava nas categorias de base. A última conquista era a de Mansell, em 92.

Deu certo. Muito certo.

O objetivo era atingir US$ 2 milhões, valor cobrado pela Minardi por um cockpit até o fim daquela temporada.

O valor arrecadado ultrapassou a meta e ainda deixou um troco que foi aplicado em investimentos. "Ele já fala em correr na Jaguar no ano que vem", relatava a reportagem.

Aconteceu antes disso. Naquele mesmo 2003, após 11 corridas pela Minardi, ele subiu um degrau e tomou o lugar de Pizzonia na equipe inglesa.

Quatro corridas depois, conquistou sua maior glória na F-1: oitavo colocado em Indianápolis, marcou seu único ponto na categoria.

A redenção? Longe disso. A repercussão foi menor do que Wilson e Palmer esperavam. Os patrocinadores não bateram à porta, como planejado. O dinheiro acabou, e a Jaguar acertou com Klien para o ano seguinte.
Wilson ficou a pé.

A partir daí, tornou-se um daqueles típicos nômades do automobilismo. Correu de Turismo, experimentou protótipos e colocou a Indy como próximo objetivo real.

Zanzou por algumas equipes pequenas, teve chances esporádicas em times maiores e neste 2015, aos 37 anos, vivia um recomeço: conseguiu um cockpit na Andretti, uma das principais estruturas da categoria.

Estava animado, esperançoso, confiante com o que vinha pela frente.

Até acertar os destroços do carro espatifado por um colega no muro de Pocono.

Quem comprou suas ações, 12 anos atrás, nunca recebeu um centavo de retorno pelo investimento.

Mas, tenho a impressão, não se arrependeu de forma nenhuma.


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