Folha de S. Paulo


Sem surpresas, por favor

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez questão de afirmar que não trabalha com surpresas. Para a indústria automotiva, é um bom sinal.

Nos últimos anos, o setor viveu aos sobressaltos. A Anfavea reclamava da queda nas vendas e lá vinha uma redução temporária de impostos que ajudava a recompor as margens de lucro.

Houve ainda o cerco aos carros estrangeiros, com elevação pesada de tarifas e ranger de dentes entre os importadores. Crise instalada, chega a hora de criar um plano de incentivo à produção local, o Inovar-Auto. Confuso, deixava claro: foi feito por advogados, esqueceram de consultar os engenheiros.

Mexe aqui, mexe acolá, e as coisas entraram nos eixos. Metas de eficiência, prazos preestabelecidos com clareza e boa resposta das montadoras deram ao programa o ar de coisa séria que ele merece.

No meio desse caminho, ocorreram outras mudanças na composição do IPI. O imposto ia subir, mas a redução era prorrogada. Da última vez, o tributo foi recomposto pela metade. Tudo sempre anunciado às vésperas, para que o consumidor mantivesse o ritual de correr às lojas para aproveitar os descontos. Era o governo ajudando a indústria a fazer campanha de varejo.

A incerteza chegou ao ponto de, no fim de 2013, ser cogitada a prorrogação do prazo que tornava obrigatória a presença de airbags e freios ABS em todos os carros novos vendidos no país.

Em dezembro daquele ano, havia montadora sem saber se interrompia de vez ou se prorrogava a produção de carros que não atendiam à norma.

Esses movimentos reduziram a confiança e o entusiasmo do comprador. Fabricantes locais e importadores também sofreram, pois as inconstâncias prejudicam os planos de longo prazo.

Se as coisas forem difíceis em 2015, ao menos se espera que o novo ministro mantenha sua palavra: nada de surpresas.


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