Folha de S. Paulo


A toda hora rola uma história

Antes de assumir a liderança global de suas empresas ou outros cargos elevados, muitos dos principais executivos do setor automotivo passaram pelo Brasil. Isso não ocorre por acaso: após trabalhar por aqui, os chefões se saem bem em qualquer função nas matrizes.

"O que leva 15 anos para mudar na Europa vira do avesso em quatro horas no Brasil", disse-me certa vez um ex-mandachuva da indústria. Exageros à parte, os cenários mudam realmente rápido neste pedaço do planeta.

Um exemplo é o que vem acontecendo com a Renault. Entre 2012 e 2013, a montadora fez várias ações para propagandear o Captur, utilitário esportivo que será produzido no Brasil. Até o conceito que deu origem ao carro visitou o país, na mais recente edição do Salão de São Paulo. Porém, no início deste ano, a fabricante revisou planos, e o projeto esteve ameaçado de não ir adiante.

O dólar alto (que encarece a importação de componentes) e as incertezas do mercado eram as justificativas para abortar o projeto.

Mas eis que chega abril e, com ele, Carlos Ghosn.

O presidente mundial da empresa anunciou investimentos de R$ 500 milhões no país entre 2015 e 2019, valor direcionado para o lançamento de produtos. O Captur, que é menor e mais luxuoso que o Duster, voltou a ser um dos modelos incluídos no pacote de novidades.

Ou seja: em cerca de dois anos, um carro saiu da produção iminente para a gaveta dos executivos e depois voltou radiante ao centro das atenções.

Na Renault, ninguém tem peito para antecipar detalhes da produção, embora a Peugeot, sua grande rival, já tenha confirmado há tempos o lançamento do utilitário 2008.

Os executivos estão precavidos, no compasso do samba "Rumo dos Ventos", de Paulinho da Viola: "A toda hora rola uma história, é preciso estar atento; a todo instante rola um movimento que muda o rumo dos ventos".


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