Folha de S. Paulo


Massacre na França coloca Olimpíada do Rio em alerta

A tragédia parisiense da sexta-feira (13) acionou o alerta máximo contra o terrorismo para os eventos esportivos nos cinco continentes. Não é excesso de zelo nem comportamento neurótico. O mundo esportivo reúne, quase diariamente, multidões em algum ou vários pontos do planeta.

Domingo mesmo, a edição de 2015 do ATP Finals, em Londres, começou com a organização informando que adotara medidas para assegurar a integridade de todos os espectadores. Além dos métodos preventivos padrões, adiantou que não seria permitida a entrada de pessoas com comidas ou bebidas e que todas mochilas e bolsas seriam revistadas. Pediu a colaboração dos torcedores.

Diante desse cenário é perturbador imaginar o emaranhado de informações e providências que devem integrar o plano de segurança de um grande evento internacional, como é o caso dos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto do ano que vem.

O Brasil teve uma grande experiência com a Copa do Mundo, ano passado, mas a Olimpíada exige um trabalho mais amplo de segurança. Enquanto na Copa participaram 32 países, e pouco mais de 700 jogadores, na Olimpíada estarão cerca de 10.500 atletas de mais de 200 países. Durante 17 dias ocorrerão disputas diárias e simultâneas nos três períodos, bem diferente da Copa.

Para lembrar essa tragédia de Paris, o Comitê Olímpico Internacional colocou a bandeira olímpica a meio mastro, na sede da entidade, na Suíça. O seu presidente, o alemão Thomas Bach, condenou os ataques, chamando-os de atos covardes.

O cartola afirmou ainda que os atentados são contra toda a humanidade e os valores olímpicos. Bach destacou também o poder que o esporte tem para unir as pessoas e comunidades, com o objetivo de trazer a paz e a reconciliação. Paradoxalmente, o esporte é vitrine mundial para qualquer tipo de ação, tal a sua oferta de exposição.

Apesar disso, os Jogos Olímpicos registram apenas dois casos de terrorismo. Uma bomba detonada num parque ao lado do centro de imprensa em Atlanta-96, que matou uma pessoa e outra morreu de ataque cardíaco. Ação mais sofisticada e cruel, com vários participantes, ocorreu na Olimpíada de Munique-72. Lá morreram 11 membros da delegação de Israel e um policial alemão. Foi uma operação do grupo palestino Setembro Negro.

Terrorismo contempla desde explosões com bombas, assassinatos, sequestros até fuzilamentos indiscriminados como os de Paris. O objetivo é causar pânico e chamar a atenção para uma causa. Portanto, é um ato desenfreado, que pode ser executado por poucos. A bomba que matou três pessoas e feriu mais de duas centenas na Maratona de Boston em 2013, foi um ato perpetrado por dois indivíduos.

A "BBC Brasil" revelou no mês passado dados curiosos sobre as exigências e desafios aos planos de segurança para os Jogos Olímpicos. Lógico que detalhes mais específicos são mantidos em sigilo, pois eles é que garantem de fato a eficiência de todo o projeto.

Posteriormente, voltando ao assunto, a mesma BBC destacou que o Ministério Público de São Paulo estava cobrando providências de autoridades da aviação civil e da polícia para melhorar a fiscalização de malas despachadas em voos domésticos no Brasil. A preocupação era que extremistas viessem a usar essa suposta falha para introduzir bombas em aviões.

"O Brasil não é uma terra. É uma civilização. Introduziu uma coisa bastante interessante, que é a democracia em termos reais. Não é só o desejo de ser igual, mas também o direito de ser diferente. O Brasil representa a maior tolerância de nossos tempos. Há árabes e judeus em paz. Por que vocês não exportam a paz para o Oriente Médio?"

Não, não é a visão de um brasileiro. São palavras do experiente Shimon Peres, Nobel da Paz em 1994, junto com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, e presidente de Israel de 2007 a 2014, em entrevista a Diogo Bercito, da Folha, em outubro de 2013. Mesmo declarações com essa força pouco ou quase nada servem para afastar o perigo do terrorismo.

Não há dúvida que atos de terror são uma ameaça em qualquer canto do globo. O passo mais certeiro é a busca de um esquema de segurança perfeito, desafio quase impossível de ser atingido, mesmo com a integração da inteligência das polícias brasileira e da comunidade internacional.


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